Três perguntas: a inflação em dezembro e do ano de 2021

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Étore Sanchez (foto divulgação Ativa Investimentos)
Étore Sanchez (foto divulgação Ativa Investimentos)

A inflação de dezembro, medida pelo IPCA, ficou em 0,73%. Com isso, o ano de 2021 fechou com uma inflação de 10,06%. Em 2020, a inflação havia sido de 4,52%. A intensidade do processo inflacionário, principalmente no segundo semestre de 2021, foi impressionante. Isso pode ser constatado pelos próprios boletins Focus. No primeiro boletim de 2021, o mercado tinha a expectativa de uma inflação de 3,34% para o ano. No primeiro boletim do segundo semestre, a expectativa já estava em 6,07%. Como já dissemos, fechou em 10,06%.

Conversamos com Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, sobre a inflação de dezembro e de 2021, a efetividade da taxa Selic no combate à inflação e sua opinião sobre as indexações da economia brasileira, mecanismo herdado do período inflacionário que faz com que parte da inflação de um ano alimente a inflação do ano seguinte.

 

Como você avalia a inflação de dezembro e de todo o ano de 2021?

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Ao exibir o resultado de 0,73%, o IPCA de dezembro surpreendeu a mediana do mercado, que era de 0,64%. Com isso, o acumulado de 2021 ficou em 10,06%. Aqui na Ativa Investimentos esperávamos uma variação de 0,67%. As nossas surpresas foram concentradas em alimentação fora do domicílio, que contribuiu com 3 bps, e no grupo vestuários, que fechou a conta para os 6 bps de desvio no headline. Já a dinâmica dos núcleos veio relativamente em linha com o esperado, com o acumulado em 12 meses atingindo o patamar de 7,4%.

O ano foi marcado por choques de preços. Os mais relevantes para impulsionar o IPCA foram de gasolina e energia elétrica. Ao que tudo indica, não deveremos assistir repetições dos mesmos em 2022.

 

Considerando o atual quadro inflacionário no Brasil e no mundo, os aumentos da taxa Selic são o meio de combate mais eficiente à inflação ou existem outros mecanismos que poderiam estar sendo melhor utilizados?

Projetamos que o Brasil deverá ter crescimento do PIB de apenas 0,3% em 2022. O PIB cresce pouco por restrição da política monetária. Diferentemente de outras localidades no mundo, a relação entre atividade e inflação, pela ótica da política monetária brasileira, é de subordinação. Logo, o juro sobe para derrubar a atividade e consequentemente segurar as perspectivas inflacionárias.

Mesmo com o processo de restrição dos juros, a perspectiva para o IPCA segue muito acima da meta da autoridade para 2022. Estimamos que, em função da inércia inflacionária, o IPCA deverá ficar ao redor de 4,6% ao longo deste ano. A Selic deverá subir até 12,25%, com duas altas de 150 bps nas duas primeiras reuniões deste ano, com interrupção abrupta do ciclo em março mediante os receios de promover uma perda da meta para baixo em 2023. Esse patamar de juros deverá permanecer ao longo de todo 2022, com afrouxamento apenas em 2023.

Outros mecanismos estão mais ligados ao caminho que os governantes tomam e a insegurança que o jogo político pode trazer para a economia brasileira. Isto posto, sim, a restrição de política monetária é o meio relativamente mais eficiente de combate a inflação considerando um mercado livre, que dá mais sustentabilidade e durabilidade para as políticas.

 

A inflação de 2021 será referência para os reajustes de 2022, que vão compor a inflação deste ano, que por sua vez servirá de referência para os reajustes de 2023 e assim por diante. Já não está na hora de se discutir a existência dos mecanismos de indexação da economia brasileira e seus impactos na própria inflação?

A desindexação da economia, no papel, é algo fácil de se romper, mas ela, na prática, é reflexo de preços estáveis e inflação baixa de forma persistente. A quebra disso não é uma medida de curto prazo. Estímulos são e devem ser feitos para mitigação das indexações, mas, em um mercado concorrencial, a estabilidade de políticas econômicas é o grande gatilho para o seu rompimento.

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