Conversamos sobre os impactos da inteligência artificial na contabilidade com Mauricio Frizzarin, fundador e CEO da Qyon Tecnologia.
O que faz a Qyon?
A Qyon desenvolve softwares com inteligência artificial para escritórios contábeis e micros e pequenas empresas. Para os escritórios contábeis, nós temos folha de pagamento, contabilidade, escrita fiscal e faturamento e mais outros softwares que chamamos de satélites ou auxiliares. Para as micro e pequenas empresas, nós temos o software de ERP que faz toda a parte de controle da empresa, como contas a pagar e receber, emissão de notas fiscais e controle de estoque. Tudo isso com inteligência artificial e integrado com o escritório de contabilidade.
Quando se fala em inteligência artificial, as pessoas já associam o assunto a um filme de ficção científica. Como a inteligência artificial pode ser utilizada na prática pela contabilidade?
No caso da contabilidade, a utilização da inteligência artificial é dividida em várias áreas de estudo, como a leitura de documentos e compreensão de imagens. Para que possamos entender isso, vou utilizar o exemplo de câmeras que são utilizadas por alguns aeroportos, que filmam as pessoas, fazem as suas identificações e buscam as suas informações num banco de dados, verificando se você é você por uma questão de segurança.
A Qyon utiliza bastante o reconhecimento de imagens; a robotização, através da qual o robô (programa) entra em sites e baixa documentos; e o machine learning, que é a máquina coletando dados, sob a orientação do usuário, para depois tomar decisões com base no conhecimento adquirido.
E onde tudo isso se encaixa na contabilidade? Normalmente, para que uma pessoa possa baixar as notas fiscais no site de uma Secretaria de Fazenda, ela tem que acessar o site com o seu certificado A1 e baixar os arquivos. Depois que as notas foram baixadas no computador, a pessoa vai exportá-las para um sistema de escrituração fiscal. Só que todo esse processo é manual (manual, mas melhor do que digitar tudo).
No nosso caso, o robô baixa o arquivo da nota fiscal, faz a sua leitura e executa todos os trabalhos manuais, básicos e repetitivos que seriam realizados por uma pessoa. Lógico, existem algumas coisas que dependem de empresa para empresa, para as quais o robô não tem condições de fazer sem uma intervenção humana. Por exemplo, quando uma empresa que revende canetas compra uma caixa, ela vai revender a caixa fechada ou cada caneta que está dentro da caixa? Como o robô não consegue fazer essa distinção, ele vai perguntar a um humano o que deve fazer, e uma vez obtida a resposta, vai executar sem questionar mais.
Feito isso, o robô do escritório de contabilidade vai “conversar” com o robô da empresa. Como a nota fiscal tem que ser paga, essa informação vai chegar à empresa. Quando o pagamento for feito, o robô do escritório de contabilidade vai receber a notificação de que o título foi liquidado. Isso será feito de forma automática, sem que seja necessário pedir ao cliente a confirmação. Logicamente, a empresa tem que autorizar o contador a ter essa troca de informações.
No caso da folha de pagamento, que normalmente é processada pelo escritório contábil, o software da folha vai aprendendo a forma como ela é processada. Uma vez que é feito o setup inicial, o robô vai processar a folha todos os meses. Você só vai precisar mexer nas exceções, como férias, demissões, descontos ou bônus. Isso continua manual, pois não há como ser previsto. O software faz de forma automática toda a parte básica e previsível, ficando a parte manual só para as exceções.
Outro exemplo: o software do escritório de contabilidade baixa e disponibiliza as CNDs para seus clientes sem nenhum contato, podendo ser por e-mail ou colocando-as disponíveis no portal, poupando um trabalho do escritório.
Assim, com a retirada dos trabalhos repetitivos, os escritórios de contabilidade podem auxiliar seus clientes no que realmente importa, como pagar menos impostos. Inclusive, o Conselho Federal de Contabilidade quer que os contadores sejam aliados dos seus clientes, quebrando a imagem do “contador que emite Darfs para serem pagas”.
Os contadores devem enxergar a inteligência artificial como aliada ou como inimiga?
Com certeza, como aliada. Nós estamos muito longe de termos uma inteligência artificial que consiga tomar decisões. O que ela faz é acumular um banco de dados muito grande, tomando algumas decisões com base nesses dados, ou, pelo menos, tentando ser assertiva com essa decisão.
Muita coisa precisa da intervenção humana, já que a inteligência artificial está longe de tomar as decisões humanas que não sejam lógicas. Quando você treina um robô, na verdade você está lhe ensinando como fazer alguma que você quer que ele faça. Ele consegue analisar o que foi feito no passado e te sugerir uma decisão? Consegue, mas baseado num banco de dados. Não é uma tomada de decisão por tomar.
Antigamente, as folhas de pagamento eram datilografas. Como não havia muita tecnologia, era basicamente uma máquina de escrever na frente do contador e uma calculadora do lado. Com a chegada dos microcomputadores, tudo isso acabou. Não se usa mais máquinas de escrever, e sim impressoras, e não se gasta mais tempo datilografando alguma coisa. Imagine o trabalho que não dava para se datilografar os holerites de uma empresa com 100 funcionários todos os meses?
Aqui eu faço uma pergunta: os contadores acabaram com a era dos computadores? Não, pelo contrário, continua a mesma coisa. Simplesmente, eles são mais eficientes e fazem mais atividades, já que aumentou o volume de trabalho em decorrência de atribuições mais complexas. Não há como tirar um computador de um contador e voltar a fazer as coisas na mão.
Eu tenho a convicção de que a revolução da inteligência artificial e dos softwares em nuvem tem a mesma importância da revolução causada quando os contadores trocaram as máquinas de escrever pelos computadores.
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