Tendo em vista a reunião do Comitê de Política Monetária desta semana, conversamos com Rossano Oltramari sobre o que deve acontecer com a Selic. Rossano é sócio e estrategista da 051 Capital, gestora especializada em alocação de recursos e planejamento patrimonial com R$ 2 bilhões sob custódia.
Nas últimas duas reuniões do Copom, realizadas em março e maio, a Selic teve dois aumentos de 0,75%, passando de 2% para 3,5% ao ano. Isso quebrou o seu mais longo ciclo de baixa, que perdurou de julho de 2015 a janeiro de 2021.
Até o final do ano, o Copom voltará a se reunir em quatro oportunidades: nos dias 3 e 4 de agosto, 21 e 22 de setembro, 26 e 27 de outubro e 7 e 8 de dezembro.
O Copom já havia antecipado que para esta reunião seria mantida “a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude”. Você acredita que irá se manter essa possibilidade de que tenhamos um novo ajuste de 0,75%? Como você está vendo o quadro atual da economia brasileira?
Depois dos últimos dados divulgados do IPCA, que surpreenderam negativamente, nós acreditamos que além do aumento de 0,75% desta reunião, o Banco Central sinalizará que teremos mais um aumento de 0,75% na reunião de agosto.
Com relação a economia brasileira, os dados estão positivos, já que ela vem apresentando uma aceleração no seu crescimento. Com o avanço da vacinação, nós temos a reabertura mais forte da economia e a diminuição gradativa das medidas de restrição. A expectativa é que tenhamos uma economia voltando ao normal no terceiro e quarto trimestre deste ano. Os últimos dados divulgados do PIB já sinalizam uma retomada.
Por outro lado, nós temos uma preocupação muito grande com relação à inflação, que nos últimos 12 meses já está na casa dos 8%. O Banco Central está preocupado com isso e tem sinalizado que o seu foco é a inflação. Ele não quer uma deterioração de suas expectativas para 2021 e 2022.
Nós acreditamos que o BC será mais duro no seu comunicado, mais vigilante com relação aos dados que estão sendo divulgados e será bastante proativo nas medidas para conter esse aumento na inflação.
Na sua opinião, quais são as perspectivas de inflação e da Selic para 2021 e 2022, ano de eleição presidencial?
Hoje a Selic está em 3,5% ao ano. Com o aumento meio que já dado de 0,75% anunciado na reunião de maio, a Selic irá para 4,25% ao ano nesta reunião. Nós acreditamos que ela possa terminar 2021 entre 5,75 e 6% ao ano. Para 2022, a Selic pode ficar entre 6,5 a 7% ao ano, dependendo dos dados que forem sendo divulgados. Com relação ao IPCA, a expectativa, após a divulgação dos últimos dados, é que a inflação anual para 2021 fique na casa dos 5,5% a 6%. Em 2022, a inflação anual deverá rodar na casa dos 4%.
Na última ata, o Copom havia alertado que “o risco de um aumento duradouro da inflação nos Estados Unidos poderia tornar o ambiente para as economias emergentes mais desafiador”. Por que isso acontece? Como você vê essa possibilidade?
Sem nenhuma dúvida, se nós tivermos os dados de inflação dos Estados Unidos se deteriorando, nós poderemos ter um ambiente bem desafiador para as economias emergentes. Se isso acontecer, os Estados Unidos serão obrigados a iniciar o aumento da sua taxa de juros e a diminuir os incentivos para sua economia, tendo como consequência uma forte interferência nas economias emergentes.
O principal risco é os Estados Unidos terem que aumentar sua taxa de juros de uma forma muito rápida e intensa. Os últimos dados de inflação* surpreenderam negativamente, bem acima da expectativa. Nesta semana, nós teremos uma nova divulgação de dados, o que pode sinalizar uma continuação da deterioração inflacionária nos Estados Unidos. Se isso acontecer de fato, teremos que acompanhar os juros americanos (treasuries, título do tesouro americano), que podem estar antecipando um possível aumento das taxas de juros do Federal Reserve (Banco Central americano). Como disse, se isso acontecer de forma rápida e intensa, a economia brasileira poderá ser prejudicada.
* Em maio, a inflação americana dos últimos 12 meses, medida pelo CPI (Consumer Price Index; em português, Índice de Preços ao Consumidor) fechou em 5%. Na última reunião do Fomc (Federal Open Market Comittee; em português, Comitê Federal de Mercado Aberto), realizada em 27 e 28 de abril, o Federal Reserve manteve a banda da taxa de juros americana (federal funds rate) de 0 a 0,25%, tendo como expectativa uma inflação anual de 2%. A próxima reunião do Fomc será realizada nos mesmos dias da reunião do Copom.
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