Três perguntas: antecipação de recebíveis – leilão reverso e mercado

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Conversamos com Leonardo Lanna, diretor de produtos da Spike, sobre as plataformas de antecipação de recebíveis Monkey, dedicada a duplicatas, e a própria Spike, dedicada à recebíveis de cartão de crédito. As duas plataformas operam no modelo de leilão reverso, que será explicado adiante.

O que faz a Monkey e a Spike?

A Monkey começou com o modelo de leilão de recebíveis no mercado de antecipação B2B. Antes da Monkey, o fornecedor de uma empresa que precisasse antecipar o seu recebível, tinha que ir a um banco ou a uma factoring. O que a Monkey fez foi criar uma plataforma onde vários bancos pudessem fazer ofertas para que os fornecedores pudessem antecipar seus recebíveis sem ter que negociar individualmente. Como se trata de um leilão, o fornecedor obtêm taxas de antecipação menores.

Podem participar dessa estrutura apenas os fornecedores dos compradores que estão nos programas da Monkey, os âncoras. São eles que fazem os contratos com a gente, entram na nossa plataforma, criam os programas e avisam os seus fornecedores. Uma vez que eu tenho um comprador aqui, na teoria todos os seus fornecedores podem antecipar recebíveis na nossa plataforma.

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Antes, esse mercado era dominado pelos bancos. Cada um tinha a sua própria solução e, eventualmente, faziam acordos com os grandes compradores para antecipar os recebíveis dos seus fornecedores, que tinham poucas escolhas. Eles tinham que tratar com os bancos em separado e o operacional era complicado. O que a Monkey fez foi centralizar todo mundo na plataforma, bancos, compradores e fornecedores, e colocar os bancos para disputarem as taxas de antecipação dos recebíveis.

A Spike surgiu quando a Monkey viu o movimento do Banco Central sobre a utilização dos recebíveis de cartões de crédito, seja para garantia, seja para antecipação. Como a Monkey conhecia bem o mercado de antecipação, ela viu com naturalidade o início dessa operação. No dia 7 de junho de 2021, quando o Banco Central colocou para funcionar o registro de recebedor de cartão, nós fizemos a nossa primeira antecipação de um recebível de cartão de crédito.

Como o mercado recebeu os modelos de negócio da Monkey e da Spike?

Com relação à Monkey, nós tivemos que fazer um processo de convencimento de pouco a pouco. Num primeiro momento, os bancos que mais queriam estar aqui eram os bancos que viam a oportunidade de atacar novos clientes. Esse foi o primeiro atrativo. Num segundo momento, quando o mercado viu que a plataforma funcionava bem e que já havia bancos operando nela, nós começamos a mostrar para as grandes empresas que o produto fazia todo sentido por três razões: ele centralizava a operação, sem que as empresas precisem acessar a plataforma de cada banco; funcionava melhor que as plataformas dos bancos, muitas delas antigas, e gerava um benefício muito forte na sua cadeia de fornecimento, pois o modelo de leilão realmente reduz taxa.

Quando as grandes empresas começaram a vir para cá, teve início o movimento de “follow the client”, com os bancos vindo para cá para continuar participando das antecipações dos fornecedores dos grandes compradores que já estavam operando aqui dentro.

Com relação à Spike, antes das mudanças ocorridas, tirando casos pontuais de empresas que conseguiam ter estruturas diferentes, os estabelecimentos comerciais que faziam a venda com cartão, só conseguiam antecipar o valor com a empresa da “maquininha”. Se uma venda parcelada fosse feita na “maquininha x”, suas parcelas somente poderiam ser antecipadas na “maquininha x”. Não havia como um terceiro se meter no meio.

Isso mudou com as registradoras. Trata-se de um modelo que gera competição, já que o modelo anterior gerava muitos ônus para os lojistas. Com o registro de recebíveis nas registradoras, qualquer terceiro pode se conectar, pegar uma autorização do lojista, começar a enxergar tudo o que ele tem a receber e oferecer uma antecipação. Ele antecipa os recursos e recebe da adquirente no vencimento do recebível, pois a operação está averbada na registradora.

A consequência mais óbvia é a diminuição da taxa para o elo mais fraco da cadeia, o lojista, que sofria com a questão da antecipação e seus altos custos.

Nós também temos benefícios para os agentes financeiros. Os bancos, os FDICs e as instituições financeiras hoje conseguem chegar a muitos clientes desse mercado que antes ficavam presos nas adquirentes. Além disso, haverá um motivo a mais para fomentar relacionamento com novos clientes e oferecer outros serviços financeiros.

Os efeitos desse tipo de antecipação de recebíveis de cartão de crédito já foram sentidos pelo mercado?

O mercado ainda não sentiu o efeito de ter tanta competição nas taxas de antecipação desses recebíveis. Por mais que a competição esteja sendo gerada, as taxas de antecipação subiram em decorrência do aumento da Selic. Os bancos estão tendo uma oportunidade enorme de terem uma receita relevante e brigarem por esse mercado, mas nós ainda não vimos isso de uma maneira massiva. Muito porque o mercado é ainda incipiente. Acredito que vamos ver a competição decolando a partir do segundo semestre deste ano.

Com o aumento dos juros e da inflação, as margens do lojista diminuem muito. Seus custos aumentam e, via de regra, ele não consegue repassar 100% disso para o seu cliente. Os custos financeiros para antecipar um recebível ficam cada vez mais relevantes, mas com esse tipo de marketplace, os lojistas terão a oportunidade de diminuir suas taxas.

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