O crescimento do comércio eletrônico e da digitalização dos relacionamentos financeiros, gerada pelos bancos digitais e fintechs, está sendo acompanhado pelo aumento das fraudes. Por exemplo, segundo o estudo Fighting Online Payment Fraud in 2021 (Lutando contra a Fraude Online em 2021), elaborado pela Junniper Research, as perdas do e-commerce em escala global deverão atingir US$ 20 bilhões neste ano, um aumento de 18% comparado a 2020, quando as fraudes somaram US$ 17,5 bilhões. O estudo não abriu os valores por país.
Para que tenhamos uma ideia desse impacto em um setor da economia global, a International Air Transport Association (Associação Internacional de Transporte Aéreo) estimou, através do estudo Fraud in the Airline Industry (Fraude na Indústria das Companhias Aéreas), divulgado em julho de 2020, que as fraudes no comércio eletrônico deste setor causam perdas equivalentes a 1,2% do seu faturamento anual, um valor de no mínimo US$ 1 bilhão.
Com relação aos relacionamentos financeiros, em setembro de 2020 a Febrabran divulgou o aumento dos golpes financeiros, mesmo com os bancos investindo cerca de R$ 2 bilhões ao ano em sistemas de tecnologia da informação voltados para segurança.
Conversamos sobre o impacto dessas fraudes, e seus principais tipos, com Luiz Matos, CEO da B2e Group, empresa especializada em sistemas antifraude e de aceleração de vendas.
Considerando a crescente digitalização de relacionamentos bancários, concessões de crédito e do comércio eletrônico, como você tem visto a questão das fraudes que impactam esses mercados?
Com o advento da Covid-19 houve uma aceleração no processo de digitalização das empresas e no relacionamento com os clientes. Naturalmente, a fraude acompanhou a tendência, e por conta do “anonimato” do agente fraudador, ela se expandiu e se tornou mais relevante.
De acordo com a Febraban, as instituições registraram no ano passado um aumento de 80% nas tentativas de ataques de fraudadores online. Hoje, a fraude se faz presente na concessão de crédito pessoal, crédito para aquisição de veículos, em abertura de contas digitais e sobretudo no comércio eletrônico.
Quais são os principais tipos de fraude que ocorrem na concessão de crédito e onboarding de abertura de cadastros? O que pode ser feito para evitá-las?
Há diverso tipos de fraudes sendo praticadas no mercado, mas citarei as três mais relevantes que dizem respeito à concessão de crédito e abertura de cadastros:
Fraude de identidade – o fraudador “rouba” dados do cliente verdadeiro e adquire bens ou serviços em nome dele;
Fraude Sintética – se difere um pouco da fraude de identidade à medida que existem fragmentos de dados reais novos e dados fictícios combinados. Um exemplo disso é criar um CPF novo e tentar vinculá-lo a dados reais de uma outra pessoa. O que mais contribui para este tipo de fraude é o grande número de dados “vazados” no mercado nos últimos meses;
Falsificação de documentos – o fraudador utiliza informações e documentos falsos sobre si (RG, local de residência, local de trabalho etc.) para obter acesso à contas e linhas de crédito.
Toda empresa pode evitar fraudes usando parceiros especializados que tenham tecnologia de ponta. Tudo tem que ser muito rápido também. Nosso sistema, por exemplo, efetua centenas de cruzamentos e fraudscorings que identificam em segundos um cadastro suspeito e alerta o cliente. É o tipo de investimento que sempre se paga porque a fraude não é recuperável na maioria das vezes.
O comércio eletrônico tem sido impactado por quais tipos de fraudes? O que pode ser feito para evitá-las?
Sem dúvida, o comércio eletrônico cresceu muito nos últimos anos com o uso mais amplo de celulares e acesso à internet por parte da população. Mas se por um lado ele permite acessar clientes sem os custos das lojas físicas, ao mesmo tempo ele se tornou alvo recorrente e consolidado dos fraudadores. Isso é realidade de todos os segmentos.
Se pegarmos o setor do turismo, que segundo estudo da IBM é um dos principais alvos dos ataques por conta do ticket médio elevado, as fraudes acontecem na compra de produtos, serviços, vouchers, passagens e pacotes aéreos, corroendo as margens dos empresários.
No comércio eletrônico podemos dividir as fraudes em:
Fraudes com cartão de crédito – a mais comuns entre as modalidades de fraude, quando o fraudador consegue acesso aos dados do cartão do cliente, fisicamente ou de maneira virtual. O titular do cartão só tem ciência que seu cartão foi utilizado quando recebe a fatura;
Phishing – é um método elaborado, onde o fraudador cria um site parecido com a loja ou programa de fidelidade original e captura os dados de usuário e senha do cliente. Uma vez em posse desses dados, ele passa a utilizá-los em compras em benefício próprio;
Autofraude – neste caso, o agente é o próprio cliente. Depois que efetua a compra verídica, se valendo do Código do Consumidor, ele contesta a compra para não pagar pelo bem ou serviço. Este fraudador pode ser facilmente identificado e impedido de fazer novas compras;
Fraude Amiga – esse tipo de fraude é similar à fraude de cartão de crédito, porém a diferença é que um amigo ou familiar se utiliza do cartão do cliente sem a sua ciência.
Para se evitar e mitigar essas fraudes, é necessário contar com tecnologia de ponta e conhecimento específico. As ferramentas precisam ser completas e atualizadas constantemente para se manter pari passu com as estratégias dos fraudadores.
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