Três perguntas: as teles e suas empresas de infraestrutura de fibra

Por Jorge Priori.

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Carlos Eduardo Sedeh (foto divulgação Megatelecom)
Carlos Eduardo Sedeh (foto divulgação Megatelecom)

Em meados de 2020, a Oi comunicou ao mercado a constituição da Unidade Produtiva Isolada (UPI) Infraco para receber os ativos de infraestrutura e fibra relacionados às redes de acesso e transporte das empresas do grupo. Em abril deste ano, a Oi fechou a venda de 57,9% da UPI Infraco para o BTG Pactual por R$ 12,9 bilhões.

Também em meados de 2020, a Vivo comunicou ao mercado que estava avaliando a possibilidade de constituir uma empresa para construção, desenvolvimento e exploração de rede de fibra óptica neutra e independente de atacado. Constituída a Fibrasil, a Vivo informou ao mercado em março deste ano que o investidor institucional canadense Caisse de dépôt et placement du Québec havia adquirido uma participação de 50% na empresa por R$ 1,8 bilhão. A Vivo e a Telefônica Infra ficaram com 25% de participação cada.

Em dezembro de 2020, a Tim constituiu a FiberCo, que já nasceu com o objetivo de captar um parceiro estratégico. Isso se confirmou no início deste mês, quando a nigeriana IHS Towers comprou 51% da empresa por R$ 1,6 bilhão.

O compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações não é novidade no Brasil. Nós já temos a exploração de torres das estações rádio base. Assim como a IHS Towers, que iniciou sua operação no país em fevereiro de 2020, ao adquirir a Cell Site Solutions, nós temos a americana American Tower Corporation, fundada em 1995, com valor de mercado de US$ 110 bilhões (Nyse, AMT; BDR na B3, T10W34).

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Para entendermos melhor essas movimentações e os caminhos que podem ser percorridos no futuro, conversamos com Carlos Eduardo Sedeh, CEO da Megatelecom.

 

Por que as teles estão criando empresas diferentes para suas infraestruturas de fibra?

Esse movimento é explicado, principalmente, por quatro motivos. O primeiro é o momento que vive o mercado financeiro, com abundância de capital e juros reais muito próximos de 0, quando não negativos. Isso promove uma “corrida” dos investimentos em ativos reais. A segunda questão é a digitalização acelerada promovida pela pandemia. Em um curto espaço de tempo, as pessoas e empresas tiveram que se adaptar às restrições de circulação e ao fechamento de seus negócios físicos, fazendo uma massa de pessoas e empresas trabalharem de forma remota. Algo sem precedentes.

Outro ponto é a chegada do 5G e toda a criação de um novo ecossistema a partir dessa tecnologia. Fatos que também contribuem para esse movimento das teles de criarem empresas diferentes para sua infraestrutura de fibra óptica, já que ela é a estrada para alcançar a quinta geração de internet móvel, e não existe nenhum outro meio de transmissão de dados que suporte a mesma capacidade.

Além disso, o alto endividamento das empresas de telecomunicações, que têm ciclos de investimento constantes e crescentes para manter suas tecnologias atualizadas, é uma questão chave para esse movimento de mercado. Os ativos de fibra óptica vêm despertando o interesse por parte das companhias que detêm grandes redes (principalmente as incumbentes). Assim, criar unidades de negócios separadas, seja para uma capitalização distinta – com novos investidores, IPO ou quaisquer outras formas – destrava o valor da empresa de serviços (Service Co.). Para se ter ideia, as companhias de infraestrutura chegam a valer de 20 a 30 vezes o Ebitda no mercado, enquanto as de serviços, alcançam, em média, 6x esse valor.

 

Na sua opinião, quais são as perspectivas desse tipo de empresa? Você acredita que no futuro elas tenham potencial para abrir capital na B3?

As perspectivas são bastante positivas. Olhando para o futuro, faz muito sentido as empresas de infraestrutura serem independentes das de serviço, uma vez que construir e manter redes nos grandes centros urbanos tem se tornado mais difícil e oneroso com o passar do tempo. Por outro lado, as empresas de serviço devem passar a se concentrar nesta prestação, buscando construir um portfólio mais atrativo e abrangente para os seus clientes. O mercado de Telecom vem se transformando de forma acelerada. O futuro está na convergência.

Sobre a abertura de capital, acredito que possa, sim, acontecer. Claro que estamos analisando uma situação bastante recente, mas, a depender da capacidade de execução dessas empresas de infra, acredito que possa haver, em breve, um movimento parecido com o que vivemos com os IPOs das empresas de tecnologia.

 

O Brasil já possui empresas de compartilhamento de infraestrutura de torres de telecomunicações e caminha agora para as empresas de compartilhamento de fibra. Como está o mercado de compartilhamento de infraestrutura de telecomunicações no exterior?

No exterior, há tempos, existem empresas puramente de infraestrutura. Elas têm como vocação atender a quem precisa de suas redes para conectar os próprios serviços aos clientes finais. Em muitos casos, já nasceram como negócios puros, ou seja, sem depender ou ser um spin-off de companhias prestadoras de serviços. Destaco que a chave para o sucesso desses empreendimentos de compartilhamento de fibra passa pelo fato de agirem com isonomia, oferecendo ao mercado as mesmas condições de prazo e preço que ofertam àquelas de que se originaram.

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