Três perguntas: como está a economia da Argentina?

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José Giraz (foto divulgação Skilling)
José Giraz (foto divulgação Skilling)

A situação econômica da Argentina está complicada, mas começa a melhorar. A inflação mensal de maio fechou em 3,3%, sendo que nos últimos 12 meses ela está acumulada em 48,8%. Segundo o Banco Central argentino, a inflação esperada para os próximos 12 meses é de 43,3%.

Enquanto no Brasil se discute os três últimos aumentos da Taxa Selic, que passou de 2% para 4,25% ao ano no último mês, na Argentina a taxa de política monetária está em 38% ao ano (sim, considerando a inflação, a taxa de juros real da Argentina é a mais negativa do mundo).

Cabe ressaltar que a ligação entre Brasil e Argentina segue muito forte. Em termos de balança comercial, o Brasil é o principal importador da Argentina e o segundo maior exportador, atrás apenas da China. Com relação ao Brasil, a Argentina é o quarto principal parceiro comercial, tanto nas exportações quanto nas importações, ficando atrás da China, União Europeia e Estados Unidos, respectivamente.

Para entendermos um pouco mais sobre o momento econômico da Argentina, conversamos com José Giraz, analista de mercado financeiro e diretor para América Latina da Skilling, plataforma europeia de negociação online que trabalha com negociação Forex e CFD (Contracts for Difference, Contratos por Diferença).

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Como está a economia da Argentina e quais são as suas perspectivas?

A economia argentina está tentando se recuperar da devastação causada pela Covid-19. Desde o início da pandemia, o governo teve que tomar uma série de medidas que afetaram a evolução econômica do país, como, por exemplo, bloqueios severos, toques de recolher e fechamento de fronteiras. No momento, as perspectivas são positivas para a economia argentina. A tão esperada retomada econômica, graças à flexibilização das medidas em alguns dos principais mercados para os produtos argentinos, pode começar a se manifestar no curto prazo.

Segundo o Banco Central da Argentina, a atividade econômica no primeiro trimestre do país sul-americano cresceu num ritmo mais rápido, considerando os últimos dois anos. Os principais gatilhos foram a recuperação dos preços das commodities, o maior investimento e o maior consumo. Gastos pessoais ou privados sugerem que o cidadão argentino enxerga esperança e está otimista sobre como a economia continuará durante 2021 e em 2022.

Segundo dados oficiais, o Produto Interno Bruto cresceu 2,5% no primeiro trimestre de 2021, em relação ao mesmo período de 2020. Dados mais do que significativos considerando que o Q4 de 2020 fechou com uma contração de 4,3%.

Para a Argentina, é fundamental que ela continue na trajetória de crescimento, mas, para isso, ela deve tomar medidas que permitam um maior fluxo de exportações, menos controle de preços e controle da inflação em alta, que se aproximou dos 50% em maio de 2021.

 

Em sua opinião, os problemas econômicos da Argentina ainda afetam o Brasil como há alguns anos?

Acredito que as dificuldades econômicas da Argentina afetam todos os membros do Mercosul, especialmente o Brasil, seu principal parceiro comercial na região. Neste momento, a relação comercial entre os dois está em boa forma. As exportações argentinas para o Brasil atingiram US$ 4,2 bilhões em maio, registrando o maior nível desde 2018, enquanto a corrente de comércio entre os dois países cresceu 147% ano a ano, fechando em 2020 com US$ 16,7 bilhões em bens e serviços comercializados.

Embora o Brasil já esteja diversificando seus mercados na região, como o aumento da atividade comercial com o Chile, onde um Tratado de Livre Comércio está perto de ser finalizado, os dois países ainda precisam um do outro, e qualquer desequilíbrio econômico em um deles afetará a economia do outro.

 

Em geral, como você avalia a situação econômica atual na América Latina?

Os países latino-americanos foram severamente atingidos pela pandemia. Vale lembrar que as exportações são a principal atividade econômica da maioria desses países. O fechamento das fronteiras, a menor demanda e a retração econômica nos principais mercados têm nos impactado claramente em menor ou maior grau.

No caso da Colômbia, por exemplo, as manifestações contra a nova reforma tributária fizeram com que as agências de classificação de risco mais importantes do mundo retirassem o grau de Investidor do país. O Chile viu as suas exportações de cobre diminuírem em 2020, embora agora se beneficie dos aumentos no preço do metal. O México foi outro que viu suas exportações e consumo pessoal diminuírem por conta de medidas restritivas, principalmente pelas que foram tomadas pelos Estados Unidos na fronteira entre os dois países.

O importante a se considerar é que as perspectivas econômicas para o segundo semestre de 2021, e para todo o ano de 2022, são positivas. Espera-se uma forte recuperação em função da reativação da economia mundial. No caso do México, o crescimento para 2021 é de 5,8%, enquanto no Brasil projeta-se que a recuperação econômica será de 6%, se a campanha de vacinação avançar.

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