Conversamos com Alexandre Gomes, sócio-diretor da Consorciei, sobre os impactos dos aumentos da Selic e da inflação nos consórcios e as perspectivas deste mercado. Também conversamos sobre o que está valendo mais a pena fazer no atual contexto econômico: um consórcio ou um financiamento?
A Consorciei é uma fintech dedicada a consórcios. Ela surgiu em 2018 para auxiliar consorciados desistentes a conseguir liquidez em cima de suas cotas de consórcio. Nesse segmento, a empresa já transacionou mais de R$ 300 milhões por meio de sua plataforma online integrada com as principais administradoras de consórcio do Brasil. Hoje, a fintech atua em toda a jornada do consorciado, desde o planejamento da compra até a contemplação e uso da carta de crédito.
As altas da Selic e da inflação impactam os consórcios?
Os consórcios não são impactados diretamente pela alta da taxa Selic, mas indiretamente podem ser beneficiados à medida que alternativas de financiamento e empréstimos ficam mais caras. Vários bancos já anunciaram aumento na taxa de juros do financiamento imobiliário, por exemplo.
Um consórcio não tem o elemento de juros. O custo para um consorciado ter uma cota de consórcio e participar de um grupo é a taxa de administração, que é paga para a administradora do consórcio gerir o grupo e garantir a saúde financeira dele. Essa taxa não é atrelada à Selic e, consequentemente, não segue o movimento dos juros dos financiamentos. Sendo assim, com o aumento da Selic, o consórcio acaba se tornando uma alternativa que ganha mais competitividade em cima do financiamento.
Em relação à taxa de administração dos consórcios, o que esperamos, na verdade, é uma contínua redução ao longo do tempo. Vemos as administradoras aumentando significativamente seu esforço comercial, o que aumenta a competição e melhora as condições para os clientes. Além disso, há muita oportunidade de trazer inovação tecnológica para o setor, aumentando a eficiência, reduzindo custos e, consequentemente, deixando o produto melhor para o cliente, não só em termos de qualidade do serviço, mas também em custo.
Além de se proteger do aumento da Selic, o consórcio tem uma característica muito importante, que é a preservação do poder de compra do cliente. O consórcio foi criado na década de 60 em um contexto inflacionário, então ele já está preparado para lidar com momentos como esse. Ele garante esse poder de compra através do reajuste do bem objeto.
Em outras palavras, caso o consorciado inicie um consórcio para adquirir um determinado carro, ele terá a garantia de que, quando for contemplado, terá direito a uma carta de crédito exatamente do valor do carro que pretende comprar.
Nos 12 meses até agosto de 2021, por exemplo, a variação de preço de automóveis novos, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 9,6%. Para automóveis usados, a variação ficou em 12,48%. É claro que para acompanhar esse reajuste, as parcelas futuras também terão o mesmo ajuste proporcional, mas o consorciado não deve se preocupar, pois caso o novo valor da parcela fique acima do valor planejado, o cliente pode pedir a alteração do bem objeto para um valor menor, garantindo que ele fique dentro do seu orçamento.
Considerando o atual contexto econômico, o que vale mais a pena? Um consórcio ou um financiamento?
Essa resposta não é tão direta e vai depender muito do objetivo e perfil da pessoa. Se o indivíduo deseja o bem imediatamente, ele pode dar uma entrada em um financiamento ou dar um lance em um consórcio, que é uma das formas de você ser contemplado e ter acesso à carta de crédito.
Nesse cenário, você deve avaliar se possui o montante necessário para ambas as opções e, caso haja, comparar os juros que você pagaria no financiamento com a taxa de administração do consórcio diluída pelos meses após a contemplação, mais algum reajuste que possa haver na parcela como a inflação.
Geralmente, se você é contemplado na primeira metade do consórcio, do ponto de vista puramente financeiro, o consórcio acaba sendo a melhor alternativa, haja vista que o custo mensal pelo período que você tomou o crédito acaba sendo bem menor. Sendo assim, nesse cenário em que a pessoa dará o lance logo no começo, o consórcio provavelmente será uma alternativa melhor.
É muito importante observar qual o lance necessário para contemplar a cota. Você deve avaliar o resultado de assembleias passadas para ver o valor dos lances que os demais participantes estão dando e ver se você tem a capacidade de dar um lance vencedor. Caso o grupo esteja em formação, você não terá essa informação, e uma alternativa será comparar com outros grupos já em andamento da mesma administradora de consórcios com perfil parecido. No entanto, os lances podem variar e não existe garantia de contemplação.
Além disso, o cliente também deverá analisar o prazo. Mesmo que o cliente escolha a opção mais vantajosa do ponto de vista de juros/custo mensal, o fato de fazer um financiamento ou consórcio com prazo mais longo pode ajudar a reduzir a parcela mensal e, consequentemente, adequar melhor ao orçamento. Nesse sentido, alguns clientes podem preferir o financiamento, principalmente no caso imobiliário, pois conseguem prazos às vezes de 30 a 35 anos, o que é menos comum nos consórcios. No caso de automóveis, geralmente os consórcios conseguem oferecer prazos maiores.
Agora se o indivíduo não deseja o bem imediatamente, ele deve comparar as alternativas de poupar um valor para adquirir o bem à vista no futuro; poupar até ter o montante necessário para dar uma entrada em um financiamento ou um lance no consórcio, o que nos remete ao tópico anterior; ou aderir a um grupo de consórcio desde o princípio. Comparando essas alternativas, parece que a melhor alternativa seja poupar para adquirir o bem à vista, mas aí eu lhe pergunto: quantos imóveis ou automóveis você comprou assim?
O ser humano tem uma dificuldade muito grande em poupar. No Brasil, existem estudos de que apenas 30% das pessoas conseguem poupar algum recurso durante o período de um ano. No consórcio, mais de 70% das pessoas que aderem a um grupo ainda estão poupando depois de 12 meses, provando o sucesso do produto em mudar hábitos. Ou seja, o consórcio tem um viés de finanças comportamentais que promove o que chamamos de “poupança forçada”, que é o incentivo à pessoa poupar algum recurso todo mês.
Além disso, você leva junto uma opção, que é a de ser contemplado por sorteio antes do término do grupo ou até de conseguir dar um lance em algum momento do tempo, o que faz o cliente ter acesso ao bem antes do prazo necessário para poupar todo o valor. Sendo assim, vemos que o consórcio é uma excelente alternativa para se adquirir bens ou serviços de forma planejada.
Quais são as perspectivas para o mercado de consórcios para 2021 e 2022?
O mercado de consórcios vem em um ritmo muito forte nos últimos anos. Em 2020, mesmo no ápice da pandemia, o setor bateu o recorde de vendas, ultrapassando a marca de 3 milhões de novas cotas vendidas. Em 2021, até julho, o crescimento sobre o mesmo período do ano anterior já é de 31,1% em termos de quantidade de cotas e de 65,1% em termos de volume de crédito comercializado, segundo dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios).
Esperamos que essa tendência continue, não só em 2022, como por muitos anos. O consórcio tem características muito modernas. No fundo acaba sendo uma ferramenta de autofinanciamento que deveria ser mais eficiente do que formas tradicionais de crédito. Vemos as administradoras investindo mais no produto e isso deve fomentar mais crescimento no setor. Soma-se a isso a chegada de fintechs, como a Consorciei.
Vemos que o consórcio foi um dos segmentos do setor financeiro que menos evoluiu do ponto de vista tecnológico. Temos uma oportunidade tremenda de melhorar a experiência do cliente, trazer mais transparência e simplificação para o produto, explorar novos canais e novos públicos, como os mais jovens, e até novos produtos.
Nos últimos anos, os segmentos de consórcio que mais crescem são os de serviços, como viagens ou cursos, e de eletrodomésticos, o que mostra uma avenida muito grande de crescimento em outros segmentos ainda pouco explorados e fora dos tradicionais imóveis e automóveis. Nesse sentido, a Consorciei se posiciona para ser um dos líderes dessa transformação.
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