As criptomoedas são uma realidade. Trata-se de um universo novo, que vem se consolidando, mas que desperta muitas dúvidas para quem é de fora. É um mercado com muito potencial de crescimento, mas os rápidos movimentos de valorização e desvalorização podem assustar. Com o objetivo de esclarecer algumas dessas dúvidas, o Monitor Mercantil está abrindo um espaço para analisarmos quatro tipos de criptomoedas: bitcoin, ethereum, bnb e as stablecoins.
Vamos conversar sobre elas com Ney Pimenta, CEO da Bitpreço, primeiro marketplace de criptomoedas da América Latina. Nesses artigos serão analisados o que são essas criptomoedas, seus mecanismos de valorização e suas utilidades.
Com relação a questão da utilidade, essa é uma pergunta simples e importante, mas muitas vezes negligenciada. Ney ressalta já ter visto investimentos que terminaram em prejuízo justamente pela falta desta análise. Se o investidor tivesse verificado qual era a utilidade da criptomoeda que ele estava comprando, provavelmente não teria feito o investimento que terminou de forma frustrada.
A primeira criptomoeda a ser analisada é o bitcoin, principal moeda digital do mundo. Ney também vai comentar um pouco sobre a tecnologia trazida pelo bitcoin e que está chamando cada vez mais a atenção: o blockchain.
Os artigos serão publicados nas sextas-feiras.
O que é o bitcoin?
O bitcoin foi a primeira criptomoeda. Ele foi desenvolvido em 2009. Uma de suas características é ser descentralizado, ou seja, ele não é controlado por um governo ou empresa, e sim por uma rede mundial de computadores que pertence a milhares, possivelmente milhões de pessoas. Existem empresas de “mineração”, mas elas não fazem parte de uma entidade que controla o bitcoin.
O bitcoin surgiu logo após a Crise dos Subprimes em 2008. Nessa crise, houve uma crítica muito forte ao governo americano pela impressão de dinheiro para evitar a quebra de bancos e empresas. É por isso que o bitcoin prega justamente o contrário: tirar o poder dos governos para imprimir dinheiro e colocá-lo, de forma descentralizada, nas mãos das pessoas que mineram na blockchain.
Um fato interessante é que quando o bitcoin surgiu, ele valia alguns centavos. Nos últimos meses, ele bateu mais de R$ 300 mil. Hoje, existem dezenas de milhares de criptomoedas no mercado que utilizam os mesmos princípios de criptografia e descentralização lançados pelo bitcoin.
Qual é o mecanismo de valorização do bitcoin?
É complicado falar de valorização de algo tão novo como as criptomoedas. Obviamente, existe muita especulação por detrás disso, na mesma medida em que o mercado vai amadurecendo e entendendo como essa invenção pode ser útil. Foi isso o que aconteceu com o bitcoin. Mesmo assim, nós podemos enxergar alguns mecanismos de valorização em sua história.
Um dos mecanismos que foram criados, talvez com esse intuito, é o halving. Seu objetivo é reduzir a oferta de bitcoins no mercado. A cada 3 ou 4 anos, o próprio algoritmo do bitcoin reduz pela metade a recompensa que é dada aos “mineradores”. Esse valor começou com 50 e hoje está em 6,25. Isso gera uma redução de oferta em momentos em que, paralelamente, a adoção vai aumentando a procura do produto, implicando na sua valorização pela forma mais óbvia possível: oferta x demanda.
Quando se analisa a história do bitcoin, verificamos que sempre há uma valorização muito forte meses depois do halving. Nos últimos anos, isso aconteceu na virada de 2017 para 2018 e em março de 2020. Nesse último caso, houve uma sinalização de valorização, o mercado ficou atento ao processo, e assim que a Paypal trouxe uma nova demanda e interesse por esse mercado, tivemos o início de um crescimento explosivo do valor do bitcoin em meados do segundo semestre de 2020.
Esse talvez seja o mecanismo mais explícito de valorização do bitcoin: a redução de oferta através do halving, casado com a popularização da moeda e aumento de demanda.
Outro mecanismo de valorização é a especulação e euforia, consequência direta do halving. Quando os preços sobem, isso chama a atenção das pessoas, gerando uma avalanche de novos compradores eufóricos por conhecer a nova tecnologia e visualizar o seu potencial, alimentando assim o aumento de preço. É por isso que nós temos esses picos muito altos após o halving, mas que tendem, depois de alguns meses, e após o fim da euforia, a serem corrigidos com a volta do valor para uma coisa mais sensata. Isso é notável no bitcoin.
Esse comportamento também se repete nas outras moedas, como as altcoins. Uma vez que um comprador se envolve com o bitcoin, e gosta do mercado, ele passa a enxergar outras moedas e seus potenciais, acontecendo o que chamamos de altseason: uma estação das moedas alternativas que vem depois da euforia do bitcoin.
Qual é a utilidade do bitcoin?
Nós vivemos a digitalização de praticamente tudo, e nada mais esperado que a digitalização do dinheiro. Junto com isso, nós temos a globalização. Como o bitcoin é uma moeda global, você pode enviá-la digitalmente para qualquer lugar do mundo sem qualquer restrição de fronteiras. Mas, ao contrário do que foi inicialmente pensado para o bitcoin, ele não é mais apropriado para a liquidação de pequenos pagamentos. Por exemplo, não é mais possível pagar o cafezinho da esquina com bitcoins.
Atualmente, ele é utilizado como reserva de valor por ser mais comparável ao ouro que ao dinheiro do dia-a-dia. Isso acontece porque o custo para fazer uma transferência de bitcoins é alto, já que seu preço subiu muito. As taxas são cobradas em bitcoins e em proporção à transação. É por isso que não é mais possível ficar pagando o cafezinho do dia-a-dia com bitcoins. Também existe uma demora de até 30 minutos para efetivação da transferência.
Como reserva de valor, o bitcoin se consolidou fortemente. Ele é um ativo escasso como o ouro e tem propriedades que o ouro não tem, como a facilidade de ser levado para qualquer lugar do mundo ou de ser transferido de forma simples e mais barata. É por isso que muitas pessoas estão vendo o bitcoin superior ao ouro, que é uma das reservas de valor mais antigas e usadas até hoje.
Apenas complementando, já existem outras moedas que foram criadas para serem usadas no dia-a-dia, muito mais efetivas para o pagamento do cafezinho, por exemplo. Essas moedas utilizam a tecnologia do bitcoin e possuem aprimoramentos que focam no conceito de dinheiro, onde uma pessoa consegue fazer uma transferência em poucos segundos e de forma muito mais barata, ou até mesmo sem custo.
Outra utilidade trazida pelo bitcoin, mas que não é referente a ele, e sim à tecnologia que ele trouxe, é o blockchain. Ela é basicamente um livro contábil onde ficam registradas todas as movimentações de bitcoins, tanto de pessoa para pessoa quanto dos “mineradores”. O “minerador” é a pessoa que escreve as páginas desse livro contábil que fica registrado nos computadores da rede.
Muitos dizem que essa tecnologia vai muito além das criptomoedas e que ela, na verdade, é a grande inovação. Blockchain pode ser utilizado para registro de documentos como diplomas emitidos por universidades ou informações públicas do Detran. Uma vez feito o registro, não há mais como alterá-lo, pois não há uma entidade central com poder para isso. Por exemplo, se uma multa for registrada, nenhum funcionário do Detran conseguirá alterá-la. Um diploma não terá como ser falsificado, além de ficar público. Estão sendo visualizadas várias oportunidades de uso para o blockchain. Esse é um terreno bastante fértil.
Leia mais: