Três perguntas: empresas de cannabis, ações e ETFs

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Rodrigo Lima (foto divulgação Stake)
Rodrigo Lima (foto divulgação Stake)

Conversamos com Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake, sobre a performance das ações e ETFs das empresas de cannabis na Nasdaq e na Bolsa de Nova York (Nyse), sua visão sobre o setor de cannabis nos Estados Unidos e o apetite dos investidores brasileiros por esse tipo de papel.

A Stake é uma startup australiana fundada em 2017 que permite a compra de ações e ETFs (Exchanged Traded Fund, Fundos de Índices) americanos através da sua plataforma. Ela chegou ao Brasil em outubro de 2020 depois de estabelecer a sua operação na Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.

 

Como você está vendo o setor de cannabis nos Estados Unidos?

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O mercado de cannabis está em ascensão mundialmente. Não apenas o uso recreativo vem sendo descriminalizado em diversos países ao redor do mundo como também vêm ocorrendo grandes descobertas no uso medicinal do canabidiol, com uma série de medicamentos sendo desenvolvidos a partir do composto. É estranho pensar que a medicina foi privada durante décadas de estudar e utilizar uma substância somente porque ela poderia ser utilizada para fins recreativos. Se este mesmo tratamento fosse dado para o ópio, hoje não teríamos a morfina e uma série de analgésicos e sedativos que foram fundamentais para o desenvolvimento da medicina moderna.

Os usos recreativos e medicinais não são as únicas possíveis fontes de crescimento para o setor, que também pode trazer progressos para os setores têxteis e de materiais. A fibra do cânhamo, que é muito resistente, pode ser utilizada em diferentes indústrias. No entanto, ainda não há nenhuma companhia listada do setor que realize investimentos diretos no desenvolvimento deste tipo de produto, sendo difícil para o investidor pessoa física se beneficiar destas inovações.

 

Como está a performance dessas ações e ETFs negociados nas bolsas americanas? Há algum destaque?

O setor ainda é muito novo e, como qualquer setor nascente, tem uma série de empresas ainda em estágio pré-operacional, com dificuldades para estabelecer modelos de negócios viáveis e que possam gerar fontes de receitas previsíveis. Muitas dessas companhias encontrarão obstáculos para crescer e, eventualmente, podem até ser expulsas do mercado. Isso acaba puxando o setor como um todo para baixo, fazendo com que o ETF mais negociado do setor, que é o Alternative Harvest (MJ), da ETFMG, caia 14,9% no ano.

Isso não quer dizer que o futuro para o setor não seja promissor. É válido realizar um paralelo com o final dos anos 90 e início dos anos 2000, quando centenas de companhias de TI surgiram e inundavam as bolsas. Eventualmente uma crise acabou separando o joio do trigo, com várias empresas quebrando enquanto outras, com modelos de negócios já testados e com validade corroborada pelo mercado, acabaram se consolidando.

Na realidade, já vemos um movimento como este ocorrendo, com players como a OrganiGram* (OGI) e a Tilray (TLRY) apresentando uma performance melhor que os demais concorrentes, com as ações da primeira subindo 32,75% e a segunda caindo apenas 1,68% no ano. As duas empresas atuam no modelo seed to store, ou seja, verticalizam toda a produção desde a plantação até chegar nos varejistas e têm, consistentemente, apresentado crescimento das receitas, o que acaba se refletindo na performance das ações.

É importante também lembrar que tanto para uso medicinal ou recreativo, este ainda é um mercado de luxo, ainda inacessível às classes mais baixas e que, portanto, pode apresentar um alto grau de ciclicidade da demanda, afetando assim o desempenho das empresas do setor.

 

As ações e ETFs desse setor chamam a atenção dos investidores brasileiros e estrangeiros que operam através da Stake?

De maneira geral, os brasileiros que operam pela Stake não costumam realizar o picking das ações do setor, isso é, escolher pessoalmente cada uma das companhias em que ele deseja investir. Ainda vemos muito pouco volume dos investidores brasileiros nas ações individuais do setor, o que é compreensível se considerarmos que este ainda é um setor muito difícil de ser analisado, que passa por uma série de barreiras legais e é um tanto quanto distante para o brasileiro, que não tem pares locais para realizar comparações.

No entanto, o ETF Alternative Harvest da ETFMG, que negocia com o ticker MJ, está sempre entre os ETFs mais negociados na nossa plataforma, o que mostra que os brasileiros têm grande interesse em se expor ao setor.

 

* Considerando o valor de mercado, a Organigram vale US$ 680 milhões e a Tilray US$ 4,8 bilhões. O ETF Alternative Harvest possui US$ 1 bilhão em ativos sob administração.

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