Três perguntas: FIDCs – startups, portfólio e médias empresas

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Cristiano Greve (foto divulgação Integral Investimentos)
Cristiano Greve (foto divulgação Integral Investimentos)

Conversamos sobre FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios) com Cristiano Greve, gestor da Integral Investimentos.

 

Como as startups estão utilizando os FIDCs?

O FIDC tem uma grande vantagem com relação às estruturas convencionais de dívida. Ele permite segregar o risco entre a carteira e a companhia. Por exemplo, no caso das companhias que fazem empréstimo pessoal, você consegue segregar o risco do originador dos créditos do risco do próprio portfólio.

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Companhias nascentes ou recém-captadas de private equity conseguiram, através da securitização, levantar recursos importantes que acabaram viabilizando a sua própria atividade-fim. Nós temos uma dessas operações aqui dentro de casa. Trata-se da Kovi, que trabalha com a locação de veículos. A companhia nasceu com o objetivo de oferecer acesso a veículos para motoristas de aplicativos. Sua tese era de ser uma companhia asset light (poucos ativos), onde eles não seriam os donos dos carros. A Kovi alugaria os veículos de locadoras e faria a sublocação para motoristas de aplicativos, embarcando muita tecnologia neles.

Ao longo do processo de desenvolvimento, eles perceberam que exauririam os limites de crédito das próprias locadoras e decidiram formar uma frota própria. Assim, nós fizemos junto com a Kovi a securitização dos contratos dos motoristas de aplicativo. Nós usamos um conceito que chamamos de QMM, que basicamente é uma securitização de fluxo futuro de contratos, para que a companhia captasse junto a investidores cerca de R$ 100 milhões para formar a sua própria frota.

Com os recursos, a Kovi comprou 2 mil veículos, que foram oferecidos como garantia ao fundo. Esse é um exemplo de como um FIDC possibilita estruturas criativas de captação de recursos para companhias que de outra forma talvez não conseguissem captar através de uma debênture, uma nota comercial ou uma Cédula de Crédito Bancário.

Esse tipo de operação é para uma startup que tem uma certa maturidade. Quando a Kovi fez a operação, ela estava concluindo uma captação Série B. Nós chegamos a ver algumas startups menores que a Kovi, principalmente do ramo financeiro, captando recursos no começo da sua existência, mas eram companhias que faziam contratos de crédito pessoal e que conseguiam originar muitos créditos. Por exemplo, nós ajudamos a Consorciei a montar um programa de venda de cotas de consórcio no mercado secundário. Nesse caso, nós utilizamos o FDIC para comprar cotas de consórcio, sendo que o risco do investidor não era a Consorciei, e sim as cotas de consórcio de grandes administradoras.

Uma coisa interessante do mundo dos FIDCs é que ele tem muita governança. Todo fundo terá três figuras: gestor, administrador e custodiante. Essa estrutura tríplice tem uma observância muito grande sobre os ativos; se a garantia foi bem constituída; se ela está sendo bem observada; se o fluxo financeiro previsto está de fato acontecendo, e caso não esteja, aplicar uma série de regramentos estabelecidos em regulamento e contrato de cessão; e mantendo informados os investidores que acreditaram nessa tese e compraram de certa forma essa estrutura de segurança que o FIDC possibilita.

 

Quando não vale a pena estruturar um FIDC?

No final do dia, nós vamos olhar a qualidade do portfólio. O risco final é o ativo que está sendo comprado. Normalmente, eu vou fazer uma análise muito profunda desses ativos. Ele tem qualidade? A probabilidade de inadimplência dos devedores está dentro do que foi combinado? O nível de inadimplência está condizente com a estrutura de garantia que foi proposta?

Se o portfólio for de má qualidade, mesmo que seja de um grande originador, com um risco x retorno não sendo bem calibrado, nós vamos optar por não seguir com a transação. Se existe um risco elevado, nós temos que estar acompanhados por um retorno adequado. Esse é o binômio que vamos olhar.

A análise é pragmática. O processo de estruturação de um FIDC leva até seis meses. Trata-se de um processo muito laborioso e detalhado, que envolve o comissionamento de companhias de auditoria externa para fazer a avaliação do portfólio. Nós pedimos aos clientes que querem acessar o mercado de capitais que tenham o carimbo de uma das “Big 4” (EY, PwC, Deloitte e KPMG), mostrando que esse portfólio foi auditado, validado e que existe.

 

Olhando agora para o mercado tradicional, como estão as médias empresas na utilização dos FIDCs?

As médias empresas acabam ingressando nesse mercado através das estruturas de FIDC multicedente e multissacado. Elas pegam o seu contas a receber e vendem com desconto para um desses fundos, havendo no mercado uma série de companhias que fazem a aquisição de direitos creditórios.

Existem médias empresas que são gestoras de portfólios que podem ser passíveis de securitização. Essas empresas podem fazer estruturas proprietárias onde elas serão as patrocinadoras da captação de recursos.

Além disso, o mercado está se sofisticando. Hoje nós temos a possibilidade do registro eletrônico de duplicatas. Uma empresa pode registrar uma duplicata, e a registradora dará a certeza de que esta duplicata foi objeto de uma transação comercial que está concluída e que aquele valor é devido, da mesma maneira como acontece com os cartões de crédito. Para que se possa fazer uma antecipação de recebíveis de cartão de crédito, você necessariamente precisa registrá-lo numa das três registradoras. O registro confirma que aquela unidade creditória existe, é devida e que foi cedida por um terceiro.

Isso aconteceu nos cartões e agora está acontecendo nas duplicatas. Ainda é incipiente, mas já está começando a ganhar tração.

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