Três perguntas: franchising – recuperação, adaptação e oportunidades

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Conversamos com André Friedheim, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), sobre os impactos da pandemia e a recuperação do setor, a adaptação aos desafios impostos pela pandemia e setores de franchising com boas perspectivas para 2022.

Como a pandemia afetou o mercado de franchising e como está se dando a recuperação?

O mercado de franquias consolidou a sua curva de recuperação em 2021, compensando as perdas que tivemos em 2020. Nós fechamos o ano com um faturamento de R$ 185 bilhões ante R$ 167 bilhões em 2020 e R$ 186 bilhões em 2019. Nós praticamente igualamos o desempenho do franchising em 2019, último ano sem os efeitos da pandemia. Como os economistas gostam de falar, foi um crescimento em V onde caímos e crescemos na mesma velocidade. Para 2022, estamos trabalhando com uma perspectiva de crescimento de 9%, o que faria o setor superar os R$ 200 bilhões de faturamento.

Com a flexibilização e suspensão das medidas restritivas e o avanço da vacinação, as pessoas começaram a circular e voltar ao trabalho, ou seja, voltaram a fazer um consumo mais presencial e menos virtual. Tudo isso mexe diretamente com o varejo e, consequentemente, com o franchising.

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De alguma forma, isso ratifica a força do setor de franchising. Trata-se de um setor que trabalha em grupo, de maneira colaborativa e num ambiente de confiança. O empreendedor não se sente sozinho. Ele faz parte de um grupo e se beneficia dos ganhos de escala que são gerados pelo sistema de franquias. Essa dinâmica contribuiu para a forma como o setor se recuperou.

Como as franquias se adaptaram aos novos desafios?

Os franqueadores criaram novos modelos e formatos das suas próprias operações, reduzindo custos e buscando mais eficiência. Eles passaram a olhar mais de perto para as operações dos franqueados, conhecendo mais seu dia-a-dia e ajudando para que todos passassem por essa fase. Eu costumo dizer que a pandemia foi uma grande janela de oportunidades para franqueadores se aproximarem dos seus franqueados. O que aconteceu era em razão de uma variável externa não controlável: a pandemia. Ninguém tinha controle sobre ela. O franchising mostrou a sua força e que franqueadores e franqueados estavam trabalhando juntos pelo bem daquela empresa. E por trás disso tudo, tinha a ABF dando todo o apoio e negociando com governos, bancos, instituições financeiras, fornecedores e shopping centers para criar um ambiente mais tranquilo durante esse furacão.

Além disso, acredito que todas as empresas de franchising passaram por um processo de transformação digital. Empresas que não trabalhavam com delivery ou e-commerce passaram a trabalhar com eles. O mais importante é que as empresas franqueadoras incluíram seus franqueados dentro desse processo. Não é mais “o e-commerce é do franqueador e o franqueado é só o dono da lojinha”. Não. O franqueado é parte importante na questão logística. É mais barato sair uma mercadoria da loja do franqueado que está próximo ao consumidor do que do centro de distribuição que está a quilômetros de distância. O processo de transformação digital fez com que a omnicanalidade passasse da teoria para a prática. A capilaridade das franquias, com inúmeras lojas em diversos mercados, facilita muito o atendimento do consumidor na forma e no momento em que ele quer ser atendido.

Quais são os setores de franchising com boas perspectivas para 2022?

O franchising é composto por diversos setores da economia que foram afetados de maneira muito distinta durante a pandemia. Nós tivemos setores que realmente sofreram grandes impactos como hotelaria e turismo, entretenimento e lazer, e setores que acabaram se beneficiando como casa e construção.

Para 2022, nós estamos vendo o setor de casa e construção mantendo seu crescimento. Com o trabalho híbrido, as pessoas reformam seus ambientes e compram novos equipamentos e móveis, o que movimenta muito esse setor. Ele também recebe os efeitos do crescimento do mercado imobiliário. Os lançamentos dos prédios voltaram com força total, apesar do desafio das taxas de juros um pouco mais elevadas, o que acaba inibindo o setor de construção civil.

Outro setor é o de saúde, beleza e bem-estar. As pessoas estão investindo seu dinheiro em si próprias. Na verdade, sempre investiram, pois nós gostamos disso. O Brasil é um país tropical, com praias, onde as pessoas têm um culto ao corpo, mas acho que agora esse investimento vem com uma outra característica: o bem-viver, o bem-estar. As pessoas estão se cuidando mais pois perceberam que são vulneráveis e que não sabem como será o dia de amanhã.

O setor de alimentação é tradicionalmente ótimo no mercado. Antigamente, esse setor crescia vinculado ao crescimento da indústria de shopping centers, mas atualmente ele está crescendo com novos conceitos, modelos e produtos, voltado ao delivery e às dark kitchens. Trata-se do setor mais representativo do franchising brasileiro e possui boas perspectivas para 2022, por mais que tenha sofrido muito com a pandemia.

Para completar, nós temos um setor bastante abrangente: serviços. O crescimento desse setor está baseado na profissionalização dos serviços no Brasil. Por exemplo, antigamente muitas pessoas não tinham confiança para deixar seus carros numa oficina mecânica, pois achavam que seriam enganadas. Com a profissionalização, a pessoa deixa seu veículo numa oficina limpa, organizada, onde os testes são feitos junto com ela, fazendo com que ela se sinta confiante no serviço que será prestado. Isso também pode ser visto na substituição das tinturarias pelas lavanderias. O franchising navega muito bem no setor de serviços e nós temos muitas oportunidades dentro desse segmento.

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