Três perguntas: fundos de investimento fechados

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Breno Andrade (foto divulgação Monte Bravo)
Breno Andrade (foto divulgação Monte Bravo)

Conversamos sobre fundos de investimento fechados com Breno Andrade, assessor de investimentos da Monte Bravo.

 

Quais são as principais características de um fundo fechado?

Nós aconselhamos a instituição de um fundo fechado para investimentos financeiros a partir de R$ 15 milhões, desde que isso não seja todo o patrimônio de uma única pessoa ou de uma família. Quando esse tipo de fundo é montado para uma pessoa, ele é exclusivo. No caso de uma família, ele é restrito.

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Esse tipo de fundo não pode concentrar toda a necessidade de curto e longo prazo, pois, normalmente, num ano nós conseguimos aportar duas vezes e resgatar uma única vez. É preciso ter uma previsibilidade de patrimônio para que não se prejudique o fundo.

Num fundo fechado, os resgates têm que ser proporcionais. Se um dos cotistas resgata R$ 100 mil, todos os demais cotistas têm que resgatar o mesmo valor proporcional a sua quantidade de cotas. Estou utilizando a palavra resgate para facilitar o entendimento, mas num fundo fechado o resgate se chama amortização.

Eu posso ter um fundo fechado num modelo puro, ou seja, comprando ativos, ou num modelo FIC (Fundo de Investimento em Cotas), sendo que o puro é um pouco mais caro que o FIC. Na média, um fundo fechado puro custa no ano até R$ 45 mil, e um FIC até R$ 25 mil. Assim, eu preciso pegar o custo fixo do fundo mais o custo de gestão para diluí-los dentro do patrimônio do fundo, de forma a que a rentabilidade obtida pelo gestor não seja prejudicada pelos custos.

Num fundo fechado, você não tem tributação numa mudança de estratégia. Se uma pessoa fizer isso utilizando fundos abertos de investimento, ela vai ter que resgatar o valor do fundo A, voltar com o dinheiro para a conta-corrente para então aplicá-lo no fundo B. Quando esse resgate é feito, há um fato gerador de Imposto de Renda.

Já num fundo fechado, a pessoa deixa de investir como pessoa física e passa a investir como um fundo de investimento. Nesse caso, o mesmo movimento de mudança de estratégia gera lucro para o fundo, e não para a pessoa física, não havendo um fato gerador para que a pessoa física tenha que recolher imposto de renda. Isso só vai ocorrer quando a pessoa fizer um resgate do fundo. Esse é um dos grandes divisores de água na tomada de decisões de longo prazo.

Estrategicamente, um fundo fechado tem como objetivo o longo prazo. Naturalmente, depois de dois anos, o fundo já atinge a menor alíquota de Imposto de Renda, 15%. Além disso, não há o adiantamento de imposto de renda a cada seis meses, o famoso come-cotas.

Como um fundo fechado tem um CNPJ, ele vira um investidor institucional para todos os bancos e corretoras. Com isso, ele tem acesso a produtos mais sofisticados e exclusivos destinados a grandes investidores. Uma pessoa física, mesmo que tenha o mesmo volume de recursos de um fundo fechado, não consegue acessar esses produtos.

Um fundo fechado pode ser um bom instrumento de planejamento patrimonial e sucessório. Quando feito em vida, esse tipo de planejamento é mais barato. Nesse tipo de fundo, uma pessoa que tem 100 cotas pode doar 99 delas aos seus beneficiários, pagando em vida o ITCMD. Mesmo com a doação, a pessoa permanece com o poder econômico e político sobre o fundo. O custo de sucessão recairá sobre a única cota que não foi doada.

 

Um fundo de renda variável investe em renda variável. Um fundo de renda fixa investe em renda fixa. Como se decide a realização dos investimentos num fundo fechado?

Excelente pergunta. O gestor do fundo pode ser de um banco, de uma corretora ou de uma empresa de assessoria de investimento que pode ter um braço de gestão, como é o nosso caso. A Monte Bravo é uma empresa de assessoria de investimento que tem uma gestora com sócios em comum que é a Kilima.

Um gestor é contratado para seguir a trajetória que será desenhada junto com a família. Por exemplo, ela pode dizer que não gosta de investir no exterior, já que acha que existem muitas oportunidades aqui dentro. Assim, o gestor vai sentar e combinar a política de gestão com a família. Mas como o cotista vai ter segurança disso? Aí entra um cara chato, que vai ver se tudo aquilo que está na política está sendo aplicado, inclusive nas proporções estabelecidas: o auditor. Por exemplo, uma família pode dizer que não tem problema em investir em renda variável, desde que não passe de 5% da carteira.

Pegando o exemplo das ações, se o mercado estiver num momento muito bom e o gestor entender que faz sentido aumentar a exposição, ele tem que pegar uma anuência escrita com a família para poder sair da política. Do contrário, regra é regra, e o que está no contrato é para ser cumprido.

Na sua maioria, os fundos fechados não têm a participação da família na gestão. A família quer justamente o contrário: ela quer delegar. Um empresário, que tem um patrimônio de R$ 30 milhões e um fundo fechado de R$ 15 milhões, ganha dinheiro no seu negócio, e não nos investimentos. Ele delega a gestão ao gestor, que vai prestar contas mensalmente sobre o que está fazendo.

 

Um fundo fechado acaba tendo uma relação muito próxima aos seus cotistas. Como funciona essa relação?

Como se trata de clientes com uma grande robustez de patrimônio, isso exige muito conhecimento técnico e disponibilidade. O relacionamento acontece naturalmente. Eu tenho relacionamento com os meus clientes há 3, 4 anos, e agora eles trouxeram parte dos seus patrimônios para montar um fundo exclusivo com a gente.

Para que possamos trabalhar com um nível patrimonial elevado, nós temos que ter pouquíssimos clientes para dedicarmos a atenção e tempo que esse perfil está acostumado a receber.

Uma família que tem um fundo fechado de R$ 15 milhões, que é o valor mínimo, pertence à classe AAA no Brasil. Ela já consome os melhores serviços e produtos em todos os segmentos. Para essa fatia de patrimônio, nós temos a obrigação de entregar o melhor atendimento, estando muito próximos aos clientes, praticamente 24×7.

Nós criamos um laço muito grande ao longo do tempo. Os clientes costumam nos consultar para decisões que não têm impacto financeiro no patrimônio. Uma vez um cliente me ligou com a dúvida se comprava uma BMW ou um Audi. Cá entre nós: se ele comprasse as duas, isso não faria qualquer diferença no patrimônio. Eu fui com ele ver os carros e ele acabou decidindo sozinho pela BMW. Ter uma pessoa de confiança ao lado ajuda, inclusive, na tomada de decisões não financeiras.

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