Três perguntas: indústrias farmacêuticas – vacinas, resultados e ações

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Rodrigo Lima (foto divulgação Stake)
Rodrigo Lima (foto divulgação Stake)

Conversamos sobre os resultados e o desempenho das ações das farmacêuticas fabricantes das vacinas contra a Covid-19 com Rodrigo Lima, analista de investimentos e produtor de conteúdo da Stake. Também conversamos sobre o impacto da produção das vacinas nos números das americanas Pfizer (Nyse: PFE), Novavax (Nasdaq: NVAX), Moderna (Nasdaq: MRNA) e Johnson & Johnson (Nyse: JNJ), e da anglo-sueca Astrazeneca (Nasdaq e London Stock Exchange: AZN).

A Stake é uma startup australiana fundada em 2017 que permite a compra de ações e ETFs (Exchanged Traded Fund, Fundos de Índices) americanos através da sua plataforma. Ela chegou ao Brasil em outubro de 2020 depois de estabelecer a sua operação na Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.

 

Como você viu os resultados das farmacêuticas que produzem as vacinas contra a Covid-19 no segundo trimestre? Como as ações se comportaram?

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Assim como a esmagadora maioria das empresas que compõem o S&P 500, as fabricantes de vacinas contra a Covid-19 superaram as expectativas do mercado no segundo trimestre de 2021. A Astrazeneca foi a exceção, apresentando um lucro líquido decepcionante, ainda que a receita operacional bruta tenha vindo acima do esperado, totalizando US$ 8,2 bilhões.

As ações responderam muito bem a isso. Nos últimos três meses, as ações da Moderna se valorizaram 137,08%, Novavax, 69,27%, e a Pfizer, 21,67%, superando a sua máxima histórica que havia sido atingida em 1999. O mercado penalizou as ações da Astrazeneca e Johnson & Johnson, que subiram apenas 5,23% e 4,03% no período, enquanto o S&P 500 subiu 7,97%.

 

Como a produção de vacinas contra a Covid impactou os números dessas empresas?

Inquestionavelmente, a Moderna foi a companhia que mais se beneficiou da campanha de vacinação contra a Covid-19. Dos US$ 4,4 bilhões de receita no trimestre, US$ 4,2 bilhões são oriundos da venda de vacinas. Logo após a divulgação do resultado, a companhia anunciou prontamente um programa de recompra de ações no valor de US$ 1 bilhão, mostrando uma preocupação em remunerar o capital dos seus acionistas. Não foi à toa que a ação teve a melhor performance no setor.

Outro grande destaque foi o resultado da Pfizer, que teve uma receita de cerca de US$ 7,8 bilhões proveniente da vacina, representando 41% de seu resultado, que foi de US$ 19 bilhões. Apenas para se ter ideia da importância da vacina para a farmacêutica, a empresa projeta uma receita operacional bruta de US$ 80 bilhões em 2021, ou seja, 10% da receita projetada para o ano foi obtida com a venda de vacinas apenas no segundo trimestre.

Parece haver um consenso tácito no mercado de que essas empresas ganharam a primeira fase da corrida da vacina, principalmente por terem sido algumas das primeiras empresas que tiveram suas vacinas aprovadas pelos órgãos reguladores, contando então com a vantagem de “first mover”. Isso se refletiu no preço das ações.

A Novavax, apesar do resultado positivo, ainda é uma empresa pequena. Sua vacina vem sendo utilizada por poucos países, enquanto a Astrazeneca ainda sofre para aumentar sua lucratividade, uma vez que seus gastos com pesquisa e desenvolvimento foram maiores do que os de qualquer outro player do setor.

Já a Johnson & Johnson sofre não apenas por ter sido uma das últimas a desenvolver seu imunizante, mas também por ser uma companhia muito diversificada. Mesmo gerando mais de US$ 1 bilhão com a vacina, isso representou menos de 10% da sua receita no trimestre. Além disso, a companhia também foi penalizada por problemas com outros segmentos farmacêuticos, tendo sido obrigada a pagar US$ 5 bilhões em um acordo para encerrar processos que vinha sofrendo devido à sua omissão na crise de opioides que assola os Estados Unidos.

Por fim, mais importante do que analisar o impacto das vacinas nos resultados deste trimestre é analisar o que isso pode significar para essas companhias no futuro. De maneira geral o mercado gosta de recorrência e previsibilidade de receita. A decisão sobre novas doses de reforço ou eventuais campanhas de vacinação anuais (como temos para a gripe, por exemplo) será de suma importância para essas empresas.

 

Como anda a compra dessas ações na plataforma da Stake?

À exceção da Astrazeneca, as farmacêuticas fabricantes de vacinas contra a Covid-19 estão com alto volume de compras a nível global, com destaque para a Pfizer, cujo número de compras chega a ser 13% superior ao número de vendas.

Com relação ao Brasil, o comportamento é bastante diferente e enigmático, com o investidor se desfazendo das posições em Novavax e Pfizer e comprando fortemente Johnson, Astrazeneca e Moderna. Analisando as ações mais negociadas em nossa plataforma, percebemos que o investidor brasileiro é muito ativo e gosta muito de ações de alta volatilidade, o que pode explicar o maior volume de compras da Moderna, mas não explica o alto volume de vendas da Novavax.

Há também a tentativa de justificar o alto interesse pelas ações da Astrazeneca pelo fato de sua vacina estar sendo distribuída no Brasil, porém isso não explicaria a perda de interesse do brasileiro pela Pfizer. O interesse pela Johnson provavelmente se deve a fatores terceiros, uma vez que a companhia, até o momento, não foi uma das vencedoras da corrida da vacina. Além de ser notoriamente conhecida entre o público em geral, a Johnson é uma excelente pagadora de dividendos, o que pode explicar a alta procura pela ação.

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