Três perguntas: IPOs de 2021, avaliação e perspectivas

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Bruno Komura (foto divulgação Ouro Preto)
Bruno Komura (foto divulgação Ouro Preto)

Somente no ano de 2021, já foram realizados 21 IPOs (Initial Public Offering, Oferta Pública Inicial) na B3, sendo que 12 deles apenas em fevereiro. Neste momento, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) possui 28 processos em análise, sendo que 27 foram ingressados neste ano. Contudo, isso não quer dizer que todos os processos vão se tornar um IPO. Em 2021, nós já tivemos 40 desistências e 4 indeferimentos.

Conversamos com Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, sobre os IPOs de 2021, os destaques positivos e negativos e as perspectivas para o segundo semestre.

 

Como você avalia os IPOs que ocorreram no 1º semestre de 2021?

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O mercado esteve bastante receptivo para os IPOs. Tivemos um número bastante alto de ofertas, apesar do número significativo de postergações e cancelamentos. O volume captado foi bastante saudável, mostrando que o mercado tem espaço e consegue absorver novos IPOs. Essa tendência deve continuar, pois nós temos um mercado ainda bastante aquecido com o Ibovespa próximo às máximas.

Por mais que tenhamos engatado num ciclo de alta da Selic, ela deve se estabilizar num patamar bem mais baixo do que vimos no passado. É factível termos uma Selic estável, perto de 7%, 8% ao ano, podendo diminuir para 5% no longo prazo. Isso vai fazer com que o mercado acionário continue atrativo para os investidores, principalmente os de varejo.

No geral, os IPOs do primeiro semestre foram muito bons, mas nem todos tiveram performances positivas e conseguiram bater o Ibovespa. Se considerarmos todo o semestre, a performance não agradou quem se posicionou até abril. Em maio e junho, essas ações se recuperaram e até superaram o Ibovespa. Nós vimos um movimento de investidores procurando ativos mais arriscados, principalmente nos mercados emergentes, entrando diretamente na bolsa e gerando uma recuperação bastante expressiva desse tipo de ativo como small caps e IPOs.

 

Considerando os IPOs do primeiro semestre, quais empresas se destacaram e quais não se saíram tão bem após a abertura de capital?

Por mais que seja um IPO, o setor da empresa faz bastante diferença, gerando impacto na performance. Nós vimos setores que não tiveram uma boa performance, pois ainda estão sofrendo por causa da pandemia. Por outro lado, os setores que mostraram um pouco mais de resiliência acabaram se beneficiando da pandemia, apresentando uma performance bem superior.

Destaques positivos:

Vamos (VAMO3), Consumo Cíclico/Aluguel de carros – A Vamos é a empresa de locação de caminhões do Grupo JSL. Ela está num setor bastante fragmentado, com um espaço enorme para crescimento. A empresa tem utilizado os recursos do IPO para fazer aquisições visando a consolidação de mercado e complementação do portfólio.

Intelbrás (INTB3), Tecnologia da Informação/Computadores e Equipamentos – Por mais que a Intelbrás seja relacionada à tecnologia, ela está muito mais ligada a hardware, como itens de segurança e telefones. A Intelbrás tem se beneficiado bastante pelo fato das pessoas estarem mais em casa e mais preocupadas com o que há dentro dela.

Petrorecôncavo (RECV3), Petróleo, Gás e Biocombustíveis / Exploração, Refino e Distribuição – Trata-se de um caso bastante parecido com as petroleiras que abriram o capital recentemente, como a 3R e a Petro Rio. Elas focam em postos maduros, que ainda tem bastante valor e potencial, e que geralmente não estão no foco da Petrobras. Acredito que seja um bom papel que acabou se aproveitando da valorização do petróleo desde o ano passado.

GPS (GGPS3), Bens Industriais/Serviços Diversos – A empresa presta serviços de facilities, segurança, logística, engenharia de utilidades, serviços industriais, alimentação e serviços de infraestrutura. A GPS tem potencial para consolidar mercado.

Destaque negativos:

Espaçolaser (ESPA3), Consumo Cíclico/Produtos Diversos – A empresa possui lojas em shoppings e ruas e pertence a um setor que sofreu bastante com a pandemia, mas que tende a melhorar com a retomada da atividade econômica.

Cruzeiro do Sul (CSED3), Consumo Cíclico/Serviços Educacionais – O setor de educação superior ainda vem sofrendo, por mais que tenha apresentado um bom desenvolvimento do EAD Trata-se de um bom case para a reabertura.

Mobly (MBLY3) e Westwing (WEST3), Tecnologia da Informação/Programas e Serviços – O setor de tecnologia não foi tão bem. Depois do “boom” do ano passado e começo deste ano, houve uma correção nos preços das ações. A Westwing e a Mobly, que são plataformas para o varejo, acabaram sofrendo um pouco pela percepção de correção do setor de tecnologia.

Oceanpact (OPCT3), Petróleo, Gás e Biocombustíveis/Equipamentos e Serviços – A empresa não mostrou resultados à altura das expectativas do mercado e acabou frustrando. A Oceanpact presta serviços para o setor de óleo e gás, principalmente no segmento de extração na parte relacionada a plataformas.

 

Quais são os IPOs mais promissores para o 2º semestre de 2021?

Eu acredito que ainda teremos muitos IPOs, apesar das muitas interrupções que tivemos e da conjuntura bastante incerta. Nós temos o ruído político, que está cada vez mais forte. Vamos ver muitas medidas voltadas às eleições do próximo ano. Podemos ter preocupações com relação ao orçamento e a adesão da agenda liberal, e, provavelmente, não vamos ver reformas estruturais. O meio político evita discutir temas difíceis e sem consenso em ano pré-eleitoral e eleitoral.

Com relação ao cenário exterior, o mercado está considerando que o tapering (redução gradativa de medidas extraordinárias expansionistas de política monetária) deve ser iniciado no final deste ano. Isso pode ser ruim, pois tira recursos de emergentes e reduz a alocação em ativos de risco, o que pode ser um perigo para os IPOs. Mesmo assim, até o final deste ano, eu acredito que teremos um cenário bastante positivo por causa da vacinação e da retomada econômica.

IPOs que vale a pena monitorar:

Raízen – Joint venture da Shell e da Cosan, a Raízen tem a parte de distribuição de combustível através dos postos da Shell, mas também tem a parte de agronegócio como a moagem da cana e a conversão em etanol e açúcar. Trata-se de uma empresa verticalizada e bem gerida. Com as conversas de desinvestimento da Petrobras e venda de refinarias, a Raízen pode se interessar por algum desses ativos.

CSN Cimentos – A CSN está fazendo os IPOs de várias empresas ligadas ao grupo com o objetivo de destravar valor. O mercado de cimento tem bastante potencial por causa do aquecimento da construção civil, que foi um setor que sofreu pouco na pandemia.

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