Três perguntas: o Brasil e as oportunidades da Economia Verde

Por Jorge Priori.

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Thiago Tossi (foto divulgação IBE)
Thiago Tossi (foto divulgação IBE)

Na Cúpula do Clima promovida em abril pelos Estados Unidos, o segundo dia do evento foi dedicado integralmente à discussão de inovações tecnológicas e oportunidades econômicas relacionadas à Economia Verde. Em novembro deste ano, esses assuntos voltarão a ser discutidos na COP26, Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que será realizada em Glasgow, Escócia.

Para entendermos um pouco mais sobre as oportunidades econômicas da Economia Verde, conversamos com Thiago Tossi, palestrante e professor nas matérias de economia empresarial, empreendedorismo e inovação da IBE, conveniada à FGV.

 

O que deve acontecer com a Economia Verde nos próximos anos?

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Primeiramente, precisamos contextualizar o momento que estamos atravessando. Com a Cúpula do Clima, realizada recentemente em abril deste ano, tivemos a reunião das maiores lideranças globais que representam aproximadamente 80% das emissões de carbono e, dentre esses países, as nações com os PIB mais representativos.

Neste evento, destaco as pautas de redução das emissões em 50% até 2030, aumento do financiamento climático para nações em desenvolvimento, a suspensão do financiamento de carbono e o compromisso das nações com planos verdes de recuperação econômica da Covid-19. Com isso, podemos pensar em um foco maior na economia verde pelas nações.

Vale lembrar que em novembro deste ano haverá a COP26 em Glasgow, na Escócia, onde se espera que os países apresentem compromissos climáticos mais assertivos no âmbito do Acordo de Paris. Devemos, após esses dois eventos, verificar um movimento mais intenso de políticas públicas que foquem em uma economia de baixo carbono, uso eficiente dos recursos e de inclusão social.

Atualmente, já percebemos vários países desenvolvendo tecnologias de energia limpa. Haverá um holofote sobre o assunto e o surgimento de startups e parcerias entre setores da indústria para focar em soluções de redução de carbono, soluções eólicas, solares e de hidrogênio verde. Enxergo também uma mudança de mindset dos profissionais e práticas de gestão sustentável pelas empresas. Neste último ponto, as empresas devem rever suas estratégias empresariais, alinhando-se ao ESG (Environmental, Social and Governance), o que representará uma mudança de paradigma nas relações entre as empresas e seus investidores.

 

Como o Brasil pode aproveitar as oportunidades da Economia Verde?

Acredito que temos excelentes oportunidades e altíssimo potencial para avançarmos na Economia Verde já que somos um país com vastos recursos naturais. Para entender a Economia Verde, o primeiro passo é trabalhar firmemente na emissão zero de carbono. No caso da nossa matriz energética, aproximadamente 83% das fontes são sustentáveis e limpas, enquanto a média global é de 27%. Ponto para nós. O grande desafio é o controle do desmatamento ilegal, que acaba afetando os indicadores da emissão.

Mas, voltando ao ponto da Economia Verde, devido à nossa geografia, somos um celeiro de energia elétrica vinda de fontes renováveis como a solar, eólica e hídrica. Para que o leitor entenda a importância de termos fontes renováveis, vou citar o que considero o futuro na substituição de combustíveis fósseis: o hidrogênio verde.

O hidrogênio verde tem a capacidade de descarbonizar setores intensivos em emissões de carbono, como siderurgia e transporte. Imagine que para se obter o hidrogênio da água, é preciso realizar um processo chamado eletrólise. Para fazer isso, necessitamos de energia. Se a energia é poluente, o processo não se justifica. Agora, se usarmos as fontes renováveis como hídrica, eólica ou solar, conseguiremos extrair o hidrogênio com emissão zero. É neste ponto que vejo um alto potencial. Como já temos uma matriz energética praticamente limpa, podemos ser uma nação que atraia investimentos para o desenvolvimento deste combustível.

É importante ressaltar que no Brasil haverá a construção de uma usina de hidrogênio verde no Ceará. A empresa australiana Enegix investirá US$ 5,4 bilhões na planta de produção a ser instalada no porto de Pecém. Como consequência, veremos um reflexo positivo na economia, pois gerará milhares de empregos. E sabemos que investimento em infraestrutura e tecnologia contribuem positivamente para o PIB.

 

O que precisa ser feito para que o Brasil aproveite essas oportunidades?

Em primeiro lugar, para que o Brasil ganhe credibilidade, principalmente de investidores do setor privado, precisamos de uma política de meio ambiente austera nas áreas de desmatamento ilegal. Estando alinhado ao combate ao desmatamento, o governo sinalizará ao mercado o compromisso com a agenda e trará investimento de capital estrangeiro.

O segundo ponto é o fomento à pesquisa no que diz respeito ao desenvolvimento de tecnologia para reduzir os custos de produção na geração de combustíveis não poluentes como o hidrogênio verde. Se tivermos a tecnologia internamente, barateamos o processo e podemos ser competitivos na exportação da tecnologia.

Na sequência, posso citar incentivos fiscais para estimular a construção de plantas renováveis como a redução nas tarifas de importação de bens de capital para o desenvolvimento dessas usinas.

E não podemos deixar de destacar a prospecção de investidores do setor privado, não só nacional, como internacional. Acredito que teremos mais empresas olhando para a Economia Verde, porém, ainda não estamos colocando tração no assunto.

Um dado relevante que trago é que uma análise feita por diversas organizações mostra que, com as tecnologias existentes, uma meta de redução de 50% da emissão impulsionaria a geração de empregos e a inovação em diversos setores, como energia renovável, transporte sustentável, veículos elétricos, indústria e agricultura.

Para o Brasil, especificamente, um estudo da WRI Brasil mostra que as medidas de baixo carbono resultariam em um aumento acumulado adicional do PIB brasileiro de R$ 2,8 trilhões até 2030. Além disso, a Economia Verde geraria 2 milhões de empregos a mais, o que representa quatro vezes mais empregos do que os atualmente existentes no setor de petróleo e gás no nosso país.

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