Três perguntas: o iuan digital lançado pela China

Por Jorge Priori.

1024
Victor Corazza Modena (foto divulgação)
Victor Corazza Modena (foto divulgação)

A China foi o primeiro país a lançar a sua moeda digital, o iuan digital. Os principais países estão tentando entender o que a China está fazendo e os seus impactos. Inclusive, a própria China. Um aspecto importante desse processo é que o iuan digital não é o iuan. Daqui a alguns anos, os dois poderão ter valores diferentes.

Existe a possibilidade de que, nos próximos anos, uma pessoa que vá viajar para Pequim compre iuans digitais para levar em sua viagem, não precisando mais levar dinheiro físico. Se isso for possível, imagine o que será das casas de câmbio quando os Estados Unidos ou a União Europeia lançarem suas moedas digitais? Isso poderá ter impacto nas próprias transferências internacionais de dinheiro.

Por exemplo, pessoas físicas, que remetiam dinheiro para o exterior através de um banco, já estão transferindo com criptomoedas. De uma forma mais simples, rápida e, principalmente, mais barata. E quando as empresas descobrirem esse caminho com as moedas digitais dos países? O que será das mesas de câmbio dos bancos?

As possibilidades são muitas, inclusive as que ainda não foram vislumbradas. Para que possamos entender esse processo, conversamos com Victor Corazza Modena, consultor e palestrante pela No Final das Contas, head de Inovação na InterCoop e professor da rede IBE-FGV

Espaço Publicitáriocnseg

 

O que é o iuan digital? Como ele poderá ser utilizado? Quais são seus impactos e consequências?

O iuan digital é a moeda digital da China. Ele não é uma criptomoeda, que via de regra não é regulada por um banco central. No caso do iuan digital, ele é emitido e controlado pelo Banco Popular da China, o banco central chinês. Segundo as notícias oficiais, ele poderá ser usado como uma moeda em circulação, para realização de pagamentos, por exemplo, ou reserva monetária. Algumas empresas de tecnologia já participaram de testes para pagamento de colaboradores, fornecedores e prestadores de serviços com iuan digital. Apesar do lançamento, tudo ainda é muito embrionário, pois eles ainda estão fazendo muitos testes.

O iuan digital tem impacto direto no mercado de criptomoedas. De certa forma, por mais que não seja uma criptomoeda, ele traz luz ao mercado de moedas digitais, gerando um efeito direto a médio prazo para quem pensa em investir, por exemplo, no mercado chinês. Mais do que isso, é uma forma bastante interessante do mercado de criptomoedas ser mais explorado. Se até a moeda do maior país do mundo, em termos populacionais, e uma das maiores potências econômicas já tem a sua versão dentro desse mundo virtual, as criptomoedas também ganham força. Ao mesmo tempo, este gigante investindo e apostando em sua moeda nacional digital, movimenta todo o mercado e as economias do mundo inteiro.

 

O que o iuan digital representa para a China?

Com o iuan digital, a China se coloca no mercado de moedas digitais de uma forma bastante interessante. Ela foi o primeiro país do mundo a lançar uma moeda digital pensando nessa nova realidade. O iuan digital representa para a China um novo olhar, pois até alguns meses atrás, pouca gente sabia o nome da moeda chinesa. Hoje, o mundo da tecnologia está falando muito sobre o iuan digital. Ele é um novo patamar para a China em termos econômicos, e puxa junto o patamar das criptomoedas. O mercado tecnológico chinês e o mercado de criptomoedas crescem juntos. Além disso, financeiramente falando, a expectativa é que o iuan digital entre em circulação nas plataformas de transação de moedas digitais, pois já existe muito interesse de investidores ao redor do mundo para investir nessa moeda.

Além disso, existe a possibilidade de maior captação de recursos por parte do governo chinês e, de certa forma, uma real possibilidade de desindexar ou, pelo menos, diminuir a influência do dólar na economia global. E isso é uma tremenda preocupação para o governo americano, na medida em que o país pode gerar dívida e emitir dinheiro porque a demanda global pelo dólar é constante. Se o dólar perder representatividade e atratividade global, o risco para a economia americana é brutal. A China passa a ser uma importante força monetária, além de força econômica.

 

Outros países ou blocos econômicos, como a União Europeia, estão analisando a possibilidade de lançarem moedas digitais? E o Brasil?

Estão, mas ainda de uma forma muito embrionária. Os Estados Unidos e a União Europeia estão entendendo o que a China está fazendo. O governo de Donald Trump, pela forma como ele enxergava o mercado externo, deu muita atenção ao trabalho da China voltado para o iuan digital, assim como a União Europeia.

No Brasil, não existe um estudo voltado para o lançamento do real digital, mas acredito que existe uma tendência de olhar tecnológico para a nossa moeda. Um exemplo disso é o Pix. Por mais que o real digital possa ser lançado no longo prazo, o Brasil está de olho no mercado tecnológico financeiro. Essa é uma boa notícia.

Leia também:

Três perguntas: Padtec – o ano de 2020, perspectivas e desafios

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui