Três perguntas: o mercado de ações em janeiro de 2022

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Harold Thau (foto divulgação Técnica)
Harold Thau (foto divulgação Técnica)

Conversamos com Harold Thau, sócio e analista-chefe (CNPI) da Técnica Equity Research, divisão da Técnica Consultores, sobre o mercado de ações em janeiro.

 

Como você viu o mercado de ações em janeiro de 2022?

O mercado de ações brasileiro teve um bom desempenho no mês, com o Índice Bovespa subindo 6,99%. Na opinião da Técnica Equity Research, houve uma correção da excessiva baixa registrada em 2021 em relação às principais bolsas mundiais. Enquanto no ano passado a bolsa no Brasil caiu 11,9%, o Dow Jones (Nova York) subiu 18,9%, o Dax (Frankfurt) 15,8%, o FTSE (Londres) 14,6%, e o Nikkei (Tóquio) 4,9%.

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Em janeiro, a B3 teve uma entrada líquida de capital estrangeiro de R$ 24,8 bilhões (até o dia 26). O volume supera o número de janeiro do ano passado de R$ 23,5 bilhões. As principais razões para isto foram a força do dólar frente ao real, tornando a aquisição de ações baratas em dólar, e ao já mencionado desequilíbrio entre o comportamento da bolsa brasileira e das principais bolsas mundiais no ano passado. Desta forma, houve uma realocação de parte dos recursos para o Brasil.

A análise de 2021 e as perspectivas para 2022 nos permitem tirar algumas conclusões. No ano passado, o Índice Bovespa foi fortemente afetado por fatores internos, entre os quais a elevação da Selic, que passou de 2% ao ano em março para 9,25% em dezembro, com o objetivo de combater a inflação, que passou de 10% em 2021 (IPCA).

Para 2022, teremos eleições presidenciais em outubro, o que pode criar condições de turbulência e instabilidade para a bolsa no Brasil, especialmente se os dois candidatos populistas, que não têm a preferência dos investidores, continuarem a liderar as pesquisas. Quanto aos mercados globais, nossa expectativa é que as bolsas apresentem uma queda de seus índices devido à esperada elevação dos juros nos Estados Unidos e nos principais países da Europa, o que provavelmente ocorrerá a partir de março, e ao fim das políticas monetárias expansionistas. Com isso, deve haver uma redução na diferença de comportamento das bolsas neste ano em relação a 2021.

 

Qual a sua expectativa para os resultados do 4T21 que começarão a ser divulgados? De uma forma geral, o preço das ações está em conformidade com os resultados que estão sendo divulgados pelas companhias?

Os resultados das companhias abertas no 4º trimestre devem ser muito bons, em linha com aqueles divulgados nos nove primeiros meses de 2021. Nossa expectativa é que os lucros cresçam por volta de 20% na média consolidada das empresas do Índice Bovespa.

A Técnica Equity Research entende que o preço das ações no Brasil poderia subir em torno 26% se não fosse a conjuntura desfavorável relacionada a elevação dos juros no Brasil, nos Estados Unidos e nos principais países europeus, e a instabilidade gerada pelas eleições presidenciais deste ano. Por aqui, a Selic deve subir para cerca de 12%. É importante salientar que taxa de juros elevada faz com que o investidor direcione um fluxo maior de recursos para renda fixa do que para ações.

Outra questão a ser ponderada está relacionada à taxa de desconto (WACC) que os analistas e investidores passarão a adotar para o fluxo de caixa livre das empresas na precificação do preço justo das ações em 2022 e anos subsequentes. Ela deve sofrer uma elevação, enquanto as taxas de crescimento do fluxo de caixa poderão ser reduzidas pelo menor crescimento futuro da economia brasileira. Assim, o preço justo das ações poderá sofrer redução em relação aos atuais.

 

Na sua opinião, quais seriam os setores que podem apresentar um comportamento mais estável e com bom desempenho em 2022 apesar da volatilidade que deve ocorrer no mercado de ações neste ano?

Os setores que podem apresentar um melhor comportamento em relação aos demais são aqueles que estão relacionados às necessidades básicas da população e das empresas. Cito como destaques Energia Elétrica, Telecomunicações, Saneamento e Água, Alimentos, Supermercados, incluindo atacarejos, e Saúde, especialmente farmácias e laboratórios. Com a elevação das taxas de juros, as instituições financeiras também devem ter um bom comportamento.

As commodities internacionais que o Brasil exporta como minério de ferro, agrícolas e alimentícias também serão beneficiadas, pois as economias dos países estrangeiros que são grandes compradores, especialmente a China, deverão ter boas expansões.

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