Três perguntas: o mercado de mineração de criptomoedas em 2022

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Mineração de bitcoin (ilustração Pixabay)
Mineração de bitcoin (ilustração Pixabay)

Conversamos com três especialistas do mercado de criptoativos sobre as perspectivas do mercado de mineração de criptomoedas para 2022. Se considerarmos as duas principais criptomoedas do mercado global, o bitcoin é bastante criticado pelo consumo de energia para o processamento de sua blockchain descentralizada, enquanto a Ethereum deixará de ser minerável a partir de junho deste ano, passando de proof of work para proof of stake.

 

Paulo Boghosian (foto divulgação TC Cripto)

Paulo Boghosian, head do TC Cripto

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Bitcoin é uma rede com mais de 100 milhões de usuários estimados, que consome menos de 0,1% do consumo mundial de energia (140TWh vs 170.000TWh). É certo que o bitcoin também é uma rede em pleno crescimento. Então, supondo que a rede cresça 10x, mais de 1 bilhão de pessoas vão usar a moeda e ela vai continuar consumindo menos de 1% do consumo energético mundial. Uma quantidade pequena comparada com o ganho que é para a sociedade ter uma forma de dinheiro descentralizado, transparente e neutro.

Mais um detalhe importante: o bitcoin não é rival do nosso consumo energético enquanto sociedade. Isso porque, enquanto as sociedades requerem energia em grandes pólos geográficos (cidades), o bitcoin é agnóstico em relação a localidade/geografia. Ou seja, eu posso montar uma mineradora de energia em qualquer canto e o consumo energético da minha mineradora não vai competir necessariamente com o de uma cidade.

É muito comum também ouvir no mercado que o bitcoin consome o equivalente a um país pequeno em energia. Por mais que isso impressione, pode ser explicado. Nos exemplos, utilizam países que praticamente não têm mais indústria e têm uma população pequena, logo possuem um gasto energético ínfimo comparado com os países com parques industriais relevantes.

Mais um ponto que deve ser destacado é que estima-se que aproximadamente 50% da energia consumida pelo bitcoin é energia limpa ou renovável, o que proporcionalmente é muito superior ao consumo energético mundial. Isso porque, para ser um minerador competitivo na rede, é necessário obter energia barata; e algumas das fontes de energia mais baratas são também limpas, como a solar, hídrica e eólica. Além disso, existem diversas iniciativas para incentivar a utilização de energia limpa na mineração, como o Bitcoin Mining Council, que representa aproximadamente 30% do poder de mineração da moeda.

Falar que o ethereum é superior ao bitcoin porque não consome energia é falacioso. O ethereum vai mudar para um outro mecanismo de validação de blocos e de transações por questões de escalabilidade, porque requer um sistema mais ágil e rápido para validar blocos, e, para isso, ele vai ter que sacrificar segurança. O bitcoin não visa ser o mais rápido nem o mais ágil. Ele foca em segurança e descentralização, porque o único propósito do bitcoin é ser um sistema de pagamentos e uma reserva de valor confiável. São duas coisas diferentes, o bitcoin e o ethereum não necessariamente competem entre si. Eles são redes otimizadas para diferentes propósitos.

Assim, se o ethereum conseguir fazer a mudança sem grandes problemas, será um avanço muito importante e irá destravar muito valor para a sua blockchain, atraindo mais usuários que hoje não conseguem participar da rede devido a taxas proibitivas.

 

Orlando Telles (foto divulgação Mercurius Crypto)

Orlando Telles, diretor de research da Mercurius Crypto

Eu estendo a expectativa que vou apresentar para além de 2022. Acredito que teremos um momento muito bom, apesar das críticas ao alto uso de energia na mineração. A grande verdade é que a mineração de bitcoin é um processo extremamente eficiente. Segundo o Bitcoin Mining Council, atualmente 57% da hashrate (velocidade da mineração) é feita utilizando energias renováveis. Junto a isso, nós temos um processo contínuo de busca por fontes renováveis, especialmente pelas empresas mineradoras. Muito disso vem da migração da hashrate que saiu da China, um país que tinha predominantemente fontes de energia não renováveis, para os Estados Unidos, que estão mudando a sua matriz energética para fontes renováveis.

Outro ponto fundamental é a questão da eficiência energética. A eficiência no processo de mineração aumentou de forma significativa especialmente por causa da invenção dos ASICs (Application-Specific Integrated Circuit), máquinas específicas desenvolvidas para a mineração de bitcoin. Elas surgiram entre 2015 e 2016 e atualmente representam quase 100% da mineração de bitcoin. Essas máquinas são extremamente especializadas e eficientes. Estamos falando de uma eficiência de 700 vezes quando as comparamos às primeiras placas de mineração. Além disso, a grande maioria das empresas de mineração de bitcoin são de capital aberto, possuindo uma estabilidade e capacidade de financiamento muito grandes. Cerca de 35% da hashrate do bitcoin é feita por essas empresas.

Para os próximos anos, a mineração do bitcoin tende a buscar fontes de energia mais renováveis. Por consequência, essas operações tendem a ficar mais baratas. Os ASICs não deverão mais ter tanta evolução, já que eles são muito otimizados. Isso reduz os custos dos mineradores, já que eles não precisam ficar mudando esses equipamentos sempre.

O somatório desses fatores me faz acreditar bastante no potencial da mineração. Muito do que se fala sobre a ineficiência da mineração é uma meia verdade. Trata-se de um mercado extremamente eficiente com uma matriz energética muito positiva e uma segurança jurídica elevada por causa das empresas de capital aberto deste setor.

 

Ray Nasser (foto divulgação Arthur Mining)

Ray Nasser, CEO da Arthur Mining

Antes de tudo é de extrema importância entender que o consumo de energia da indústria de mineração do bitcoin não compete com as outras. Como essa energia precisa ser extremamente barata para que os mineradores sejam lucrativos, ela é muitas vezes uma energia de sobra, de excesso. Os mineradores vão buscar fontes de energia onde não há demanda on-grid ou criam suas próprias fontes off-grid. Sendo assim, os dois mundos não se chocam e a mineração de bitcoin consegue criar empregos e usar fontes de energia onde outras indústrias não conseguem.

Proof of work é doar poder de computação para a rede e ser recompensado por isso. Naturalmente, os “doadores” vão doar para a rede onde o incentivo é maior. Não existe maior incentivo do que a rede do bitcoin em termos absolutos, e por essa razão, não faz sentido outras moedas ou ativos adotarem o proof of work uma vez que o incentivo não será maior do que o incentivo de minerar bitcoin. É aí que entra o proof of stake – onde quem tem mais moedas tem maiores chances de minerar mais ainda. Trata-se de um protocolo criador de monopólios, porém a única saída para outros ativos que não conseguem competir com o bitcoin. Por mais que o mundo esteja mais consciente em termos de uso da energia, o bottom line, ou seja, o lucro, ainda importa e fala mais alto. É por essa razão que vemos mineradores de bitcoin na bolsa americana, e não de ethereum ou de protocolos proof of stake.

Quem conseguir atrelar lucro com ESG e consciência ambiental de forma adequada e eficiente terá a chave para captar recursos do mercado tradicional.

O mercado de mineração entrou em 2022 com tudo, com compras enormes de hardware e maquinário para esta função. Empresas que fizeram IPOs em 2021 estão capitalizadas para investir pesado. O mercado está crescendo na sua capacidade máxima e continuará a fazê-lo na medida em que passa o ano. Nós, da Arthur, com certeza estamos acelerando a nossa captação para adquirir o máximo de máquinas, o mais rápido possível.

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