Três perguntas: o metaverso e as empresas brasileiras

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César Souza (foto divulgação Empreenda)
César Souza (foto divulgação Empreenda)

Conversamos sobre o metaverso e as empresas brasileiras com César Souza, presidente da Empreenda, consultor e palestrante em estratégia, liderança, “clientividade” e inovação. César é autor de diversos best sellers e do novo livro O Jeito de Ser Magalu.

 

Como o metaverso pode ser usado pelas empresas e quais são os tipos de negócios que mais podem se beneficiar dele?

Antes de tudo, é preciso colocar o metaverso dentro de um contexto: vivenciamos um cenário “figital” no relacionamento entre empresas e pessoas. O mundo não será “apenas” digital, mas será físico e digital ao mesmo tempo. Essa é a convergência vencedora. Nesse cenário “figital”, novos recursos tecnológicos, como o metaverso, se tornam ferramentas tanto para o encantamento dos clientes quanto para maior eficácia na gestão de pessoas.

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Muitas empresas poderão se beneficiar do metaverso, especialmente aquelas ligadas aos negócios de varejo, imobiliário, moda & vestuário, lazer, educação, hotelaria e medicina. Vários tipos de indústrias também se beneficiarão, pois o processo produtivo no chamado “chão de fábrica”, por exemplo, poderá ser vivenciado de forma simulada nesta realidade tridimensional. Muitos treinamentos de montagem de equipamentos poderão ser feitos a distância, com menor risco e maior eficiência.

No caso dos varejistas, estamos diante da oportunidade para uma transformação emblemática, com a mudança do que hoje conhecemos como ponto de venda (PDV) para ponto de experiência (PDE). A experiência do cliente será a nova fronteira do marketing. As marcas que souberem conduzir esse movimento colocando o cliente no centro, certamente vão ganhar protagonismo e vão se diferenciar de forma contundente.

 

É possível fazer uma previsão de quando as empresas brasileiras começarão a utilizar o metaverso?

Embora tenha demonstrado enorme potencial ao ser apresentado, tudo relacionado ao metaverso ainda é muito incipiente, sendo impossível cravar o ritmo de adesão das marcas à novidade. Além de obstáculos naturais por conta de cultura e de características de inovação, as empresas e suas lideranças ainda precisam lidar com questões relacionadas aos custos para ingressar no metaverso.

O Brasil vive um momento de forte recessão, alta inflação e juros muito elevados, tornando mais difícil destinar recursos a projetos ainda incertos quanto aos reais resultados. No curto prazo, devemos ter apenas algumas empresas aderindo ao metaverso. Apenas no médio prazo devemos sentir um impacto maior nas empresas brasileiras. Mesmo assim, já percebemos certo grau de pioneirismo. A Lu, por exemplo, é a influencer virtual de maior impacto no mundo, o que é uma bela semente, e a Renner já começou algumas iniciativas.

É importante considerar que é possível encontrar alguns atalhos nesse caminho. Nem toda empresa criará um ambiente próprio no metaverso. Na maioria dos casos, as marcas poderão conseguir inserção em um ambiente de terceiros, que faça sentido para o público com o qual ela deseja se conectar e com o objetivo de negócio.

Atualmente, existe um conceito já enraizado de que muitas marcas podem ganhar espaço e protagonismo à medida que oferecem boas histórias com conteúdo e entretenimento. Assim, o metaverso é uma grande oportunidade que precisa estar no radar das lideranças. Trata-se de uma plataforma, ao mesmo tempo, de posicionamento, onde se abraçam causas e levantam bandeiras, e uma ponte direta para os consumidores.

Não à toa, muitas ações de metaverso acontecem a partir da indústria dos games. Jogos como Fortnite e Roblox já abrigam em seu metaverso marcas como Nike, Gucci, Ralph Lauren, Balenciaga e a brasileira Lojas Renner. O Itaú também já fez uma incursão gamificada. Temos alguns early adopters já experimentando a novidade no País, mas como tudo na vida, será um processo cujo ritmo e viabilidade serão determinados por vários fatores.

 

Considerando o mercado global, existe uma empresa que já se tornou referência na utilização do metaverso?

Além da varejista sueca H&M, é preciso considerar as empresas pioneiras na criação de metaversos, como Decentraland, Sandbox e o Cidade Alta, criado pela empresa brasileira Outplay dentro do jogo Grand Theft Auto (GTA). Temos também a Epic Games, detentora do jogo Fortnite, que passou de um simples game para um hub de socialização. Nesse sentido, podemos considerar algumas pioneiras assumindo o protagonismo dentro desses ambientes gamificados como a GAP, Mattel e as já citadas Nike, Gucci e Ralph Lauren.

Porém, o metaverso tem uma aplicabilidade muito maior que nos games. A startup norte-americana Magic Leap foi uma das primeiras empresas a criar um universo virtual e vê no metaverso potencial para aplicações na área de saúde. A Microsoft pretende usá-lo para transformar a experiência da plataforma Teams, mas a intenção é desenvolver um ponto central de novos negócios. A holding controladora do Facebook, WhatsApp e Instagram já mudou de nome para Meta. Já o Tinder investe na criação de um aplicativo chamado Single Town, com foco em encontros baseados em avatares com interação em tempo real. Outro exemplo é a Boeing, que já prometeu lançar seu próximo avião no metaverso.

A Disney tem uma das propostas mais ousadas: construir um metaverso para conectar experiências físicas e digitais. Nas palavras do seu CEO, Bob Chapek, o objetivo da companhia é permitir que os consumidores experimentem tudo o que a Disney oferece em seus produtos e plataformas, independentemente do local onde estejam. Definitivamente, isso não é pouca coisa.

Mesmo considerando que alguns anúncios de iniciativas possam fazer parte do bom e velho marketing, é inegável que um novo horizonte está nascendo, e o céu é o limite para as oportunidades que poderão vir na esteira de consolidação do metaverso.

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