Na primeira reunião do ano, o Copom aumentou a Selic em 1,5 ponto percentual, fazendo com que a taxa chegasse a 10,75% ao ano. Desde julho de 2017, a Selic não tinha dois dígitos. Na nota divulgada à imprensa, o Copom “antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros” e que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”.
Conversamos sobre o novo aumento da Selic e os investimentos com Sergio Patricio, CFO e tesoureiro do Banco Pine. A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 15 e 16 de março.
Como você viu o novo aumento da Selic?
A elevação da Selic é um remédio necessário, apesar de amargo, para uma economia com baixo crescimento e uma taxa de desemprego elevada. O entorno econômico caracterizado por inflação elevada, instabilidade fiscal e significativa alta da Selic já sinalizava as perspectivas para a primeira reunião do ano do Copom. A retomada da inflação de serviços no final de 2021 e começo de 2022 deixou mais complicado o IPCA e contribuiu para a deterioração das projeções do índice para 2022. A alta não trouxe surpresa e foi compatível com as expectativas de mercado.
A maior dúvida que temos hoje é quais serão os próximos passos e em qual nível terminará este ciclo de elevação dos juros. A intenção do comitê, portanto, é manter a inflação de 2022 em linha com o centro da meta de 3,5% para o IPCA. Agora dependemos da ata da reunião, que será publicada na próxima semana, que poderá trazer uma luz sobre as dúvidas que persistem.
Considerando o novo aumento da Selic e as perspectivas econômicas para 2022, como um investidor deve se posicionar na renda fixa?
O ano de 2022 será marcado pelo ciclo político e também pelo combate à inflação, trazendo diversos movimentos que podem influenciar fortemente o mercado, especialmente o da renda fixa, que segue com muitas oportunidades em reflexo ao aumento da taxa de juros. Porém o investidor deve ter consciência que este é um crescimento temporário e não um patamar permanente de uma nova taxa de remuneração da renda fixa.
No mercado local, a alta da Selic nas próximas duas reuniões deve completar a trajetória de crescimento da principal taxa de referência brasileira. Vale ressaltar que o reajuste em si não deve afetar a precificação dos ativos, mas o comunicado e a ata da reunião, divulgada na semana posterior ao encontro, são os fatores que devem impactar o médio prazo.
Do ponto de visto do mercado externo, este é o ano do ajuste da política monetária americana, com elevação relevante nos juros dos títulos do Tesouro americano, os Treasuries, pressionando ainda mais os juros futuros por aqui. Com esse movimento, os bancos centrais buscam retomar o controle da inflação perdido em 2021, consequência da elevação do preço das commodities e a quebra da cadeia de suprimentos mundial.
Nesse contexto, o mercado de renda fixa tem atualmente taxas mais atrativas para investimentos, tanto nas operações com taxas prefixadas como nas indexadas ao IPCA, principalmente para prazos entre 2 e 3 anos, uma vez que o ambiente mais desafiador produziu a elevação dos juros nominais e reais, trazendo mais rentabilidades aos investimentos de médio prazo. Para o longo prazo, uma alocação em bolsa ainda é muito importante para a carteira do investidor a fim de equilibrar e maximizar os retornos.
Existem outras opções de investimento que poderiam ser escolhidas por investidores?
No atual contexto, uma estratégia é se posicionar para explorar a alta da Selic e continuar se protegendo da inflação. Para rentabilizar a alta dos juros, alguns títulos atrelados ao CDI aparecem como alternativa interessante, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Esses são títulos emitidos por bancos, isentos de imposto de renda e com cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Incluir ativos de renda fixa é apenas uma das estratégias de uma carteira de investimento para “buscar rentabilidades diferenciadas com risco equilibrado por perfil”.
Contudo, a questão do que é mais indicado sempre vai depender do perfil do investidor. A composição de uma carteira de ativos financeiros deve passar por uma análise crítica, alinhado ao propósito individual de investimento. Os prazos estão diretamente relacionados aos seus objetivos. Dessa forma, fica mais fácil balancear seus riscos e retornos. Após entender se o objetivo é somar recursos para a compra de imóvel, carro, viagem ou mesmo sua aposentadoria, a escolha pode ser feita com mais assertividade. As alternativas são diversas.
Com relação aos fundos de investimento, uma orientação básica e importante é analisar os seus gestores, seus desempenhos e as taxas cobradas pelos serviços.
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