Três perguntas: presidente de estatal brasileira, profissão perigo

Por Jorge Priori.

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Ilan Arbetman (foto divulgação Ativa Investimentos)
Ilan Arbetman (foto divulgação Ativa Investimentos)

Em janeiro, Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras desde julho de 2016, apresentou sua carta de renúncia. Em fevereiro, o presidente Bolsonaro comunicou que não indicaria Roberto Castello Branco para um novo mandato de dois anos à frente da Petrobras, empresa que comandava desde 2019. Agora em março, foi a vez de André Guilherme Brandão renunciar à presidência do Banco do Brasil, cargo que ocupava desde setembro de 2020, quando substituiu Rubem Novaes à frente do banco.

Nos três primeiros meses de 2021, três mudanças significativas no comando de três importantes estatais brasileiras.

Para entendermos melhor esse processo, conversamos com Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, sobre o que está acontecendo, sua opinião sobre os processos de substituição dos presidentes e se essas movimentações indicam o abandono da pauta liberal por parte do governo do presidente Jair Bolsonaro.

 

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No dia 24 de janeiro, a Eletrobras comunicou a renúncia do seu presidente Wilson Ferreira Junior. No dia 19 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro comunicou a substituição de Roberto Castello Branco na presidência da Petrobras. No dia 18 de março André Guilherme Brandão entregou a sua renúncia à presidência do Banco do Brasil. O que está acontecendo?

Na minha opinião, é um desalinhamento entre o acionista majoritário, o governo, e as altas gestões das empresas estatais e seus objetivos à frente delas. Isso ficou claro nesses três casos. Nos casos da Eletrobras e do Banco do Brasil, os presidentes se anteciparam e anunciaram as suas saídas. O caso da Petrobras foi diferente. O governo se manifestou pela não renovação do mandato de dois anos do presidente Roberto Castello Branco, apresentando ao comitê de pessoas da companhia o nome de Joaquim Silva e Luna para substitui-lo. O comitê já se manifestou positivamente, e em breve o conselho de administração apreciará seu nome.

 

Como você tem visto os processos de substituição desses presidentes?

As substituições têm se dado de formas bem diferentes. Na Eletrobras foi escolhida uma empresa de consultoria para levantamento dos nomes mais indicados ao cargo para escolha do governo. Esse processo foi iniciado no final de janeiro e segue sem um nome definido. Podemos ter alguma novidade até o final dessa semana. Enquanto isso, Elvira Cavalcanti Presta, CFO da companhia, está respondendo pela empresa. Isso não aconteceu na Petrobras, onde nós tivemos um clima mais enigmático, com o próprio presidente dizendo que haveria surpresas na companhia, sem especificar quais seriam. O comunicado da não continuidade do presidente Castello Branco foi feito numa sexta-feira, após o encerramento do mercado (19/2/2021). Esse processo já estava definido, com o governo já tendo o nome de Silva e Luna como substituto.

Quanto ao Banco do Brasil, eu vejo semelhanças com os dois processos. Da mesma forma que na Eletrobras, foi o próprio presidente do Banco do Brasil que solicitou a sua renúncia, não ficando claro se o governo já estava trabalhando o nome do seu substituto. Cabe lembrar que as rusgas entre Brandão e o Executivo já vinham desde janeiro. Ou seja, houve tempo para que se pensasse num substituto. E da mesma forma que na Petrobras, o governo agiu rápido, e assim que foi entregue a carta de renúncia, já indicou o nome de Fausto Ribeiro, atual presidente da BB Consórcios, para a presidência da estatal.

 

Essas movimentações indicam o abandono da agenda liberal por parte do Governo Bolsonaro?

Para analisarmos se há um abandono da agenda liberal, nós temos que trazer um efeito de causa e consequência. Eu não vejo o abandono da pauta liberal como uma causa, e sim como uma consequência. Não houve um abandono premeditado, mas a ocorrência de uma difícil conjuntura macroeconômica, que juntou a pandemia com o enfraquecimento da renda da população, em especial da parcela mais humilde, acompanhada por uma inflação em alta que teve como consequência um aumento dos juros por parte do Banco Central.

Diante da inflação e da pandemia que estamos enfrentando, houve uma pressão muito grande para que o governo agisse de forma diferente do que ele fez, por exemplo, no começo do mandato em 2019. Isso teve como reflexo a realização das mudanças que o governo promoveu nas estatais. Não houve uma clara e manifesta vontade de mudar a agenda liberal, mas a necessidade de se ajustar as prioridades em conformidade com o quadro atual. Sendo direto, o governo não deixou de ser liberal, mas tomou medidas que no curto prazo vão contra uma postura liberal pela necessidade de se ajustar ao panorama vigente.

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