Três perguntas: startups – bolha ou ajuste, unicórnios desconhecidos

353
Fabiano Nagamatsu (foto divulgação Osten Moove)
Fabiano Nagamatsu (foto divulgação Osten Moove)

Conversamos com Fabiano Nagamatsu, CEO da Osten Moove, sobre o momento atual das startups, se estamos diante de uma bolha ou de um ajuste, e sobre a importância de um ecossistema que privilegie a segurança e a sustentabilidade das startups.

 

O que faz a Osten Moove?

A Osten Moove é uma venture builder, uma fábrica de startups. Nós vamos além de uma aceleração por mentoria e networking, colocando a mão na massa e possuindo profissionais como desenvolvedores, designers e gestores de produtos.

Espaço Publicitáriocnseg

Quando uma startup entra para ser acelerada numa venture builder, ela não encontra só dinheiro. Como o core de toda startup para escalabilidade é a tecnologia, seja ela uma blockchain, uma inteligência artificial ou um deep learning, o papel de uma venture builder é desenvolver essa tecnologia junto com a startup, já que existem excelentes empreendedores que não avançam por causa da parte tecnológica.

Nós também temos uma CVC, um Corporate Venture Capital no valor de R$ 100 milhões, que complementa a Venture Builder. Trata-se de um fundo de investimento constituído por capital de risco corporativo para investimento em startups.

 

Com relação ao momento atual das startups, na sua opinião, nós estamos diante do estouro de uma bolha ou de um ajuste?

Eu não digo que é o estouro de uma bolha, mas sim um ajuste devido à questões relacionadas à inflação no Brasil e no exterior, à pandemia, que ainda está afetando bastante alguns lugares, e à guerra na Ucrânia.

Algumas pessoas mais polêmicas vão falar que é o estouro de uma bolha, que até algum tempo atrás se colocou muito dinheiro nas startups, mas isso ocorreu porque estava sobrando dinheiro e era melhor investir nelas do que em outros investimentos. Se tomarmos como referência a bolsa de valores, nós vemos que as ações também estão caindo. Olhando para os unicórnios, vemos que as ações, emitidas com valores altos, agora só diminuem.

O que está faltando é conscientização. Antes se investia porque todo mundo estava investindo. Agora o momento é de conscientização: por quanto cada real investido será multiplicado de fato, mas com mão na massa e com um olhar mais clínico.

Uma coisa que eu falo há muito tempo é que qualquer tipo de empresa que precisa muito de dinheiro, incluindo startups, não são sustentáveis. Por exemplo, eu estou orientando uma startup que estava buscando investimento, mas quando analisei o fluxo de caixa da empresa, vi que eles não precisariam de dinheiro em nenhuma rodada, desde que seguissem o planejamento estipulado. Caso isso ocorra, eles terão R$ 1 milhão líquido por mês em suas mãos com a geração do próprio fluxo de caixa. Com esse valor mensal, uma startup não precisa mais de investimento, mas muitas delas não têm esse tipo de visão. Por isso que os Venture Capitals, que estão se tornando CVCs, deveriam dar mais atenção.

Os investimentos não vão parar, mas eles devem ocorrer de uma forma mais consciente e sustentável. Os investidores precisam olhar para as startups em que estão investindo. Por exemplo, eles estão fazendo boas auditorias e due diligences? Faço essa pergunta pois conheço fundos em que os caras não fazem nem isso. A startup contrata uma boa consultoria financeira, faz um cenário bonito e ganha dinheiro. Mas e depois?

 

Virou moda os investidores partirem em busca do próximo unicórnio, mas existem uma série de pequenas e médias startups, que nunca se tornarão unicórnios, mas que possuem números belíssimos e que terão dificuldades de obter investimentos pois a turma está enlouquecida atrás de um unicórnio. Como você está vendo essa situação?

Como eu faço avaliação de startups, eu já me deparei com empresas que tiveram que dar “uma ajustada”, prometer investimentos e dizer que iam crescer 10, 15%, para receberem cheques maiores de investidores. Ou seja, as startups se adequam aos cheques dos investidores, se baseando nas próprias métricas que os fundos desenham, quando na verdade isso é totalmente errado.

Como disse, as startups podem girar com o próprio dinheiro, deixando o CapTable limpo, não precisando dividir o bolo com mais ninguém. Isso faz com que possam existir unicórnios que são desconhecidos. Como assim? Um unicórnio é uma startup com um valuation de US$ 1 bilhão, mas eles só ficam conhecidos depois da divulgação de uma captação. Agora, uma startup pode ter esse valuation sem ter uma captação ou sem ter que ficar saindo na mídia. É a questão da consciência.

A preocupação não deve ser se tornar um unicórnio, mas ser sustentável. Eu não estou falando de curto prazo, mas de médio e longo prazo. O ecossistema deveria parar de ser imediatista e focar na criação de empresas sustentáveis. Em vez de ser um unicórnio, por que não ser uma startup camelo?

As startups mais tradicionais, que não querem tanto oba-oba, focam mais em ser uma startup camelo que um unicórnio, principalmente agora quando alguns deles estão dispensando pessoas ou reduzindo de tamanho. Temos também os unicórnios, e até decaunicórnios, que fizeram IPOs e estão regredindo, colhendo os frutos do que, talvez, não tenha tido uma certa sustentabilidade.

Leia também:

Três perguntas: os clubes de futebol e o mercado de capitais

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui