O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta segunda-feira que imporá uma tarifa de 25% a qualquer nação que comprar óleo ou gás da Venezuela, sob o falso pretexto de que o país envia “dezenas de milhares de criminosos para os Estados Unidos”. O ministro do interior da Venezuela, Diosdado Cabello, negou as acusações do governo Trump na sexta-feira (21), dizendo que nenhum dos venezuelanos deportados era membro da gangue.
“O presidente Donald J. Trump anunciou hoje [segunda] que os Estados Unidos da América colocarão o que é conhecido como uma tarifa secundária no país da Venezuela, por vários motivos, incluindo o fato de que a Venezuela enviou propositalmente e enganosamente aos Estados Unidos, disfarçados, dezenas de milhares de criminosos de alto escalão e outros, muitos dos quais são assassinos e pessoas de natureza muito violenta”, disse Trump em uma publicação no Truth Social. “Toda a documentação será assinada e registrada, e a tarifa ocorrerá em 2 de abril de 2025”, ele continuou.
Segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA, a Venezuela foi um dos principais fornecedores de petróleo para os Estados Unidos em 2024, com exportações avaliadas em US$ 5,6 bilhões. No entanto, esse número representa apenas 3% do total das importações de petróleo e gás dos EUA, que tem como principal fornecedor o Canadá.
Brasil compra óleo da Venezuela por meio de empresas regionais
Rodolpho Damasco, sócio e head do Private Offshore da Nomos Investimento, afirma que o Brasil, embora não seja um dos maiores importadores de petróleo venezuelano, mantém relações comerciais e energéticas com o país vizinho, especialmente por meio de operadores independentes e empresas regionais.
“Se continuar comprando petróleo da Venezuela, o Brasil pode ver suas exportações aos EUA – que representam cerca de 15% das exportações totais brasileiras – sofrerem com a tarifa adicional de 25%. Isso afetaria diretamente setores como aço, alumínio, celulose, alimentos processados e manufaturados, que têm peso relevante na balança comercial com os EUA”, alerta.
Diversos países emergentes e em desenvolvimento – especialmente da América Latina, Ásia e África – que ainda mantêm relações energéticas com a Venezuela, podem ser diretamente afetados. “A tarifa cria um dilema geopolítico: alinhar-se aos EUA e cortar laços com Caracas, ou manter os contratos energéticos e arriscar perder competitividade no mercado americano. Esse tipo de pressão pode acelerar a fragmentação de blocos comerciais e incentivar a criação de novas alianças estratégicas fora da órbita de influência norte-americana, como com China e Rússia”, analisa Damasco.
Os preços do petróleo subiram. O contrato do West Texas Intermediate (WTI) para entrega em maio aumentou 1,22%, para fechar em US$ 69,11 o barril na New York Mercantile Exchange. O contrato de petróleo Brent para entrega em maio ganhou 1,16%, para fechar em US$ 73 o barril na London ICE Futures Exchange.
Trump pode recuar novamente de taxar outros países
Por outro lado, ainda nesta segunda-feira, Trump disse que pode “dar uma folga a muitos países” na questão tarifária, à medida que se aproxima o prazo de 2 de abril para impor “tarifas recíprocas” aos parceiros comerciais dos EUA. “Isso pode dar uma trégua a muitos países, mas será recíproco”, disse Trump a repórteres na Casa Branca.
Trump frequentemente culpou países latino-americanos, como México, Guatemala, Honduras e El Salvador, por enviar criminosos para os Estados Unidos, usando tais alegações para justificar uma fiscalização mais rigorosa da imigração.
O governo Trump decidiu recentemente invocar a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798, uma lei de guerra, para deportar mais de 200 migrantes venezuelanos para El Salvador, alegando que eles eram membros da gangue Tren de Aragua e estavam cometendo crimes violentos.
O juiz distrital dos EUA James Boasberg emitiu uma ordem bloqueando temporariamente o uso da lei para deportações.
Com informações da Agência Xinhua