Trump leu Lenin?

Estudo aponta para uma hipercomoditização da economia brasileira

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Donald Trump em convenção republicana em frente à bandeira dos EUA
Donald Trump em convenção republicana (foto de Aaron Schwartz, Xinhua)

A atmosfera do tempo presente nos salões luxuosos da grande burguesia mundial, nas agências multilaterais (FMI, OMC, BIS, Banco Mundial) e nos mercados financeiros se assemelha a cena de filmes do genial Alfred Hitchcock, dado nível de suspense generalizado. Lembra Intriga Internacional, de 1959, com seu enigma.

Presenciamos uma conjuntura de grande volatilidade e incerteza, como resultado de uma guerra tecnológica, monetária e tarifária entre as duas maiores potências do planeta. Estados e burguesias travam intensa competição, que pode definir uma nova ordem mundial.

O capitalismo do século 21, aliás, se caracteriza por competição ferrenha entre potências industriais, pela presença de poderosos monopólios dominando setores chaves das economias (a maioria dessas empresas com sede nos EUA, China, Reino Unido e Alemanha) e com seus excedentes promovendo uma expressiva exportação de capitais, via compra de direitos de propriedade, ou investindo diretamente em plantas que garantem fornecimento de matérias-primas e lucros.

São tempos de firme associação entre o capital portador de juros (bancos) e a indústria consolidando cadeias globais de valor e o concomitante fortalecimento político e presença do capital fictício, aquele representado pelos grandes fundos, seguradoras e grandes empresas que são detentores de títulos de dívida pública e ações nas principais nações do planeta.

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Neste contexto, grandes grupos multinacionais dominam a cena, tanto nos países centrais, quanto nas periferias do sistema, definindo a especialização produtiva de países e continentes. A própria guerra da Ucrânia segue esse figurino de conquistas.

Donald Trump, seu anarcocapitalismo e seu jeito duro de barganhar no mercado imobiliário americano foi retratado na película O Aprendiz, de 2024. Agora ele renova seu arsenal de astúcias tentando reindustrializar os EUA, desvalorizar o dólar e retomar a hegemonia americana ameaçada pela China, que já domina, simplesmente, 5 das 13 principais tecnologias de ponta existentes no planeta, segundo a Bloomberg.

Nos anos recentes, os Estados Unidos tornaram-se dependentes da China para ter acesso a semicondutores para automóveis, computadores, celulares, painéis solares e medicamentos entre outros. A estratégia trumpista está bem delineada no texto do atual conselheiro da Casa Branca, Stephen Miran, escrito em novembro de 2024 e intitulado “Um guia para o usuário da Restruturação do Sistema Global de Comércio”.

E o Brasil nesse duelo de titãs? O Cedeplar/UFMG fez um estudo preliminar dos efeitos da guerra tarifária na terra da jabuticaba e concluiu que haverá ganhos na produção e exportação de soja, mas com exceção do setor de oleaginosas, pode haver perdas futuras significativas nos serviços e na indústria, com a manufatura nacional perdendo U$ 3,5 bilhões, mediante a invasão do produto chinês.

O estudo aponta para uma hipercomoditização da economia e o aprofundamento da desindustrialização. Nesse contexto é razoável imaginar a necessidade do país superar, rapidamente, o fiscalismo rentista e se reposicionar na divisão internacional do trabalho mundial.

Caros leitores, apertem os cintos pois a turbulência está só no começo!

Ranulfo Vidigal é economista.

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