Taxa de investimento cai para 18%; Brasil pode caminhar para depressão
O Produto Interno Bruto (PIB) teve queda de 3,8% em 2015, a maior desde o início da série histórica atual, iniciada em 1996, na série sem ajuste sazonal, divulgou o IBGE. No quarto trimestre do ano passado, a redução foi de 1,4% na série com ajuste sazonal na comparação com o trimestre anterior.
Na série ampliada (anterior a 1996), é a maior retração desde 1990, ano do confisco da poupança e de outras aplicações financeiras pelo Governo Fernando Collor de Mello. Na ocasião, a redução foi de 4,3%. A queda em 2015 reflete reduções em praticamente todos os setores da economia, com destaque para Formação Bruta de Capital Fixo (investimento), com diminuição de 14,1%. A taxa de investimentos fechou o ano em 18,2%, ainda pior que os 20,2% de 2014. A taxa de poupança foi de 14,4%, ante 16,2%.
Em valores correntes, o PIB fechou o ano passado em R$ 5,904 trilhões. O PIB per capita fechou em R$ 28,876 mil, o que representa queda de 4,6% sobre 2014. Depois de ter fechado o primeiro semestre do ano com queda de 2,3%, a economia teve seu quadro agravado no segundo semestre ao acelerar a queda e recuar 5,2%.
Os dados mostram quedas significativas na indústria (6,2% ) e nos serviços (2,7%). O único setor avaliado que registrou crescimento no período foi a agropecuária, com crescimento de 1,8%. A retração guarda relação direta com a alta das taxas de juros e os cortes nos investimentos do governo. A chamada política de ajuste fiscal, que só elevou o déficit federal, é defendida pelos bancos estrangeiros.
Para a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca de La Rocque, a queda reflete a deterioração do quadro de emprego e renda, juros e inflação alta e retração do crédito. O consumo das famílias, que durante anos puxou para cima a economia, fechou com redução de 4%, depois de ter crescido 1,3% em 2014.
A formação bruta de capital fixo teve o sétimo trimestre consecutivo de queda (4,9%) e a despesa de consumo das famílias (1,3%) caiu pelo quarto trimestre seguido. A despesa de consumo do governo recuou 2,9%.
No setor externo, as exportações contribuíram favoravelmente para o PIB e as importações ajudaram a reduzir o impacto da queda. Os dados do IBGE indicam, ainda, que as exportações de bens e serviços fecharam o ano com crescimento de 6,1%, e as importações caíram 14,3%, em razão da desvalorização cambial, que no ano passado chegou a 42%.
A contração da atividade no Brasil está adquirindo características de uma depressão econômica, segundo análise do banco norte-americano Goldman Sachs, que define o fenômeno como uma recessão em oito ou mais trimestres seguidos que leva a um declínio real do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 10%. O estudo fala que o país pode estar reproduzindo, em apenas dois anos, a década perdida de 1980.