Crianças de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, famílias que estão em insegurança alimentar e famílias onde as mães têm menor grau de escolaridade têm risco aumentado para um desenvolvimento aquém do esperado. O alerta é do Projeto Pipas – Primeira Infância Para Adultos Saudáveis, divulgado nesta quarta-feira pelo Ministério da Saúde em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.
Para a coordenadora de Saúde da Criança e do Adolescente, Sônia Venâncio, os dados corroboram outros estudos que apontam a influência das condições socioeconômicas sobre o desenvolvimento infantil.
“Esse conjunto de resultados pode nos ajudar a aprimorar as ações que a gente vem desenvolvendo na saúde, na educação e na assistência social, visando a melhorar o desenvolvimento infantil. E reafirma o impacto das desigualdades sociais no desenvolvimento das crianças”, destacou.
A pesquisa mostra que a frequência de crianças com risco de não atingir seu pleno potencial de desenvolvimento no Brasil é de 10,1% entre os menores de três anos e de 12,8% entre maiores de três anos. “Tudo isso mostra a necessidade de priorizar crianças em situação de vulnerabilidade.”
O estudo utilizou como amostra 13.425 crianças menores de 5 anos em 13 capitais, incluindo o Distrito Federal, em 2022, com predomínio das faixas etárias de 37-48 meses (21%) e 49-59 meses (19%), sendo 51% do sexo feminino. Em 79,6% dos casos, a mãe era a cuidadora principal.
Para cada criança, foi aplicado um conjunto de questões relacionadas a habilidades e comportamentos esperados para sua faixa etária a partir de quatro domínios, relacionados às habilidades motoras, cognitivas, de linguagem e socioemocionais.
Os dados mostram que 14,8% das crianças não foram atendidas por uma equipe de saúde em sua primeira semana de vida – uma recomendação da Organização Mundial da Saúde e do próprio Ministério da Saúde.
“Isso tem impacto direto na redução da mortalidade e no aumento das taxas de amamentação” destacou Sônia.
A pesquisa também indica que apenas 57,8% crianças menores de 6 meses estavam em aleitamento materno exclusivo, outra recomendação da OMS e da pasta, em razão dos impactos para o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento global da criança.
Os números revelam que 24% das crianças menores de três anos não tinham nenhum livro infantil ou de figuras no domicílio, conforme relato dos cuidadores.
“É preciso trabalhar essas orientações junto às famílias que, muitas vezes, não reconhecem essa importância no desenvolvimento da criança” explicou Sônia.
Outro dado de destaque é que 33,2% das crianças menores de três anos assistem a programas ou jogam na televisão, no smartphone ou no tablet por mais de duas horas diárias.
O estudo também mostra que 33% e 35% de cuidadores de crianças menores de três anos consideram que gritar com elas ou dar umas palmadas nas mãos, nos braços, nas pernas ou no bumbum são medidas necessárias para educá-las.
Por fim, a pesquisa indica que 75,6% das crianças menores de três anos foram envolvidas por outro membro da família em, pelo menos, quatro atividades de estímulo, como ler ou olhar livros, contar histórias, cantar, passear, jogar ou brincar nos últimos três dias.
Ao todo, 42,8% dos cuidadores de crianças menores de três anos relataram nunca ter recebido informações sobre desenvolvimento infantil por profissionais da saúde, educação ou assistência social. “Isso sinaliza que a gene precisa trabalhar intersetorialmente” concluiu a coordenadora do ministério.
Agência Brasil
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