Uma época de renovação

195

É impressionante ver como, sob certas circunstâncias, toda uma sociedade estável, em que era difícil produzir a menor mudança, de repente se transforma, muda sua natureza. O caso mais frequente é o da guerra. A sociedade pacífica, serena e feliz é subitamente militarizada, e milhões de pessoas que viviam confortavelmente e tinham medo de um resfriado aceitam morrer em frias trincheiras.

Viemos de 20 anos de globalização e desencontro em todos os campos, de um estado de crescente desordem em todos os seus setores. Do econômico-financeiro ao campo da migração e ao ecológico, com os sinais dos grandes incêndios e derretimento das geleiras, até ao campo humano, com o colapso das relações familiares e emocionais.

 

Era uma sociedade sem objetivo,

Espaço Publicitáriocnseg

sem planos senão o do enriquecimento

 

Mas as pessoas não sentiram o perigo. Nós todos vimos a globalização como o advento do Céu na Terra e a internet dava a muitas pessoas a sensação de onipotência, de poder fazer tudo sem freios morais. Mas não era uma era criativa. As maiores descobertas da época, a própria internet, eram usadas para vender, comercializar, enriquecer, distrair-se e se divertir. Era uma sociedade sem objetivo, sem futuro, sem planos senão o do enriquecimento, pessoal ou social.

Quando a catástrofe do coronavírus ocorreu, a classe política era estúpida, despreparada e distraída. Mesmo agora, meses depois, muitos países ainda não entenderam nada. Porém, infelizmente, sempre acontece assim: o sistema desordenado é reordenado de maneira autoritária. Todo o poder hoje está concentrado nas mãos dos governos, que agem de maneira ditatorial, e o povo, acostumado à liberdade absoluta, agora fica atordoado e impotente, tendo que seguir leis e regras militares.

Ninguém pode prever o futuro, mas é possível identificar tendências que podem levar a determinados resultados. Não são previsões, mas cenários, possíveis desenvolvimentos. É nesse espírito que poderiam serem identificadas algumas áreas nas quais direcionar nossa recuperação e produtividade.

Quando a internet foi inventada, tínhamos as mais maravilhosas invenções em nossas mãos. Deveria ter nos permitido transformar trabalho e estudo, tornou-se, porém, o local de entretenimento, conversas, fácil erotismo. Poderíamos ter transformado a maneira como trabalhamos e produzimos. Em vez disso, durante décadas, muitos funcionários do sexo masculino e feminino têm que acordar cedo, pegar trens e carros, fechar-se em prédios e arranha-céus, voltar à noite e sair novamente pela manhã: um golpe para o casal e a família. Desta forma, a cidade cresceu verticalmente, tornou-se uma cidade de arranha-céus, enquanto a província, que sempre foi um mundo animado, cheio de visitas sociais e culturais, se esvaziou.

Aqueles que escolheram morar na cidade grande tiveram que se contentar com um pequeno apartamento, mobiliado de maneira espartana, sem os objetos preciosos que a burguesia possuía. Os outros se tornaram escravos dos meios de transportes interurbanos.

Mas, com a epidemia de coronavírus, foi imposto o smart working. Muitas empresas continuarão a usá-lo, ainda mais tarde, e os funcionários poderão trabalhar em casa, que poderá renascer como local de reunião e de trabalho, com um novo tipo de mobiliário, novas e poderosas ferramentas de informática, fáceis de usar, robôs domésticos, aparelhos sanitários miniaturizados que permitirão a telemedicina. Talvez a gigantesca cidade de arranha-céus tenha atingido seu apogeu. Isso não significa que os arranha-céus não serão mais construídos, mas que a tecnologia da informação oferece uma alternativa.

A casa poderia voltar a ser um setor em que investimentos podem ser feitos, não apenas para adaptá-la aos padrões, mas também para criar ambientes mais bonitos, talvez com uma pequena estufa ou um pequeno jardim. Coisas pequenas, mas úteis para o bem-estar psicológico e as relações familiares.

Edoardo Pacelli

Jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), é editor da revista Italiamiga.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui