Uma incursão no Vale do Café

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Meu dia de desconfinamento vai ser diferente. Muito peculiar. Vou retornar ao Vale do Café, a quem dedico parte do meu trabalho voluntário e tenho um apreço muito grande. Fazer parte da equipe do Instituto Preservale, que mesmo com pouquíssimos recursos sobrevive por ter um grupo de abnegados que acredita na região, me faz bem, na certeza que colaboramos como podemos com a valorização, sustentabilidade e engrandecimento de um dos maiores conjuntos de maravilhas do país.

O lugar escolhido para retomar o contato com nosso Vale do Loire é o Jardim Uaná-Etê, que me marcou profundamente, desde a primeira visita. É um santuário de amor e esperança. E uma forma de expressar gratidão eterna pela Natureza e pela Música, através de seus labirintos e o contato com os sinos, que ao ecoarem ao serem tocados pelos visitantes agradecem diariamente a Deus, à Humanidade, ao Homem, ao jardineiro, aos idealizadores, ao estafe, por manterem com tanta generosidade um paraíso ainda pouco conhecido.

Saímos da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, por volta das 8h30, e nossa opção é a Dutra, seguida da RJ 125. A estrada está impecável e cercada de verde. É o início de um dia abençoado. Ao entrar em Miguel Pereira, verificamos com entusiasmo uma barreira sanitária e cartazes alertando para a necessidade da máscara, em função da Covid.

Me dá um conforto muito grande. Repentinamente, começamos a ver na estrada as indicações do Uaná. Foram aproximadamente 2 horas e 30 minutos de carro, numa velocidade moderada, com um motorista que além de dirigir muito bem, emana de uma positividade grande e divide comigo os prazeres da incursão.

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Ao chegarmos, somos logo saudados por um dos colaboradores, que aufere nossa temperatura. Como estou “mascarado”, ele não me reconhece e me apresento logo. Ministrei um treinamento para os colaboradores daquele paraíso e conheço um pouco a motivação e a força de cada componente do time de Cristina Braga e Ricardo Medeiros.

Após um primeiro informe e um mapa bilíngue, iniciamos nosso passeio. Tudo está impecável e muito, muito cuidado. Já estou me sentindo diferente, sobretudo quando avisto os proprietários do local, que já não via há muito tempo. Queremos nos abraçar, dizer com gestos o quanto estávamos com saudades, mas são nossos olhos que refletem nossa amizade.

As mesinhas do bistrô estão decoradas com lindas flores e uma pequena raquete, para eventuais mosquitos, que não encontramos em nenhum momento. Visitamos, em primeiro lugar, as instalações de hospedagem, onde já pernoitaram nomes ilustres da música brasileira, que participaram de inúmeros shows ali ocorridos. Esqueci de informar que Cristina e Ricardo são dois músicos notáveis que juntaram a paixão pelo jardim, pela família, pela música e uma terna conjugação de afeto e companheirismo. Hoje, são apenas dois apartamentos, podendo cada um ser ocupado por uma família, totalmente redecorados com pedras que trazem paz e até uma trilha sonora que nos remete à imensidão do Cosmos.

E nossa caminhada se inicia pelos jardins, pois são vários, suas esculturas, redes e seu silêncio interno e externo. Há alguns visitantes que circulam e se maravilham com tanta sofisticação verde. Cada planta, cada passo que dou, cada sino que toco enchem meu coração de esperança. São inúmeras fotos e lembranças, pois Cristina é uma parceira.

Ao nos despedirmos para o almoço, qual não foi nossa surpresa ao sermos acalorados com o chá de esmeralda, com plantas comestíveis e de uma beleza única, onde, ça va sans dire, encontrei minha esmeralda. Foi um presente de agradecimento por nossa visita, tenho certeza e mais uma demonstração de carinho.

O Vale do Café é também um local de experiências gastronômicas inesquecíveis. Resolvo finalmente conhecer o famoso restaurante de Engenheiro Paulo de Frontin, em Sacra Família, onde uma chef competente, criativa e simpática, Adriana Souza, faz as honras da casa, com sua sócia Solange. Trata-se do Empório Sacra Família, uma tratoria italiana com glamour. Nunca pensei que o local era tão charmoso: parece que estamos dentro de uma casa, com mesas muito bem postas e um ambiente de positividade. O cardápio vem repleto de possibilidades. Escolho um risoto com filé, e meu acompanhante, uma massa. Manjar dos Deuses. Serviço Michelin. Adriana também fez parte do meu dia inesquecível, sempre lembrando que aprendeu tudo com Alessandro.

É hora de voltar para casa e agradecer muito pelo dia incrível, que acontece uma vez por semana e que me faz ter muita esperança de que dias melhores estão por chegar, e que o Vale do Café está seguindo com muito respeito, tanto nos atrativos naturais, como na gastronomia e nos protocolos de segurança.

Bayard Do Coutto Boiteux

Professor universitário, pesquisador, escritor e funcionário público, trabalha voluntariamente no Instituto Preservale e na Associação dos Embaixadores de Turismo do RJ (bayardboiteux.com.br).

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