Uma ponte com a África

Giorgia Meloni ganha a confiança de 46 líderes africanos. Por Edoardo Pacelli

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Georgia Meloni, primeira-ministra da Itália
Georgia Meloni, primeira-ministra da Itália (Foto: CC)

O objetivo do Plano Mattei é colocar a Itália no centro dos jogos que se desenrolam em sua casa natural, que é o Mar Mediterrâneo, em benefício não apenas da África, mas também de si mesma e da Europa como um todo. Depois do encontro com 46 chefes de estado africanos, na segunda-feira passada (29), a maior parte do trabalho segue no sentido de tornar as oportunidades de emprego nos países africanos, segundo as palavras do ministro para os Assuntos Exteriores, Antonio Tajani, “mais fortes do que o desespero de cada jovem”, eliminando assim as razões para emigrar e tornando o projeto memorável e ambicioso.

Na prática, o primeiro passo nessa direção foi dado, e a primeira-ministra, Giorgia Meloni, pode-se dizer, ficou satisfeita. O interesse dos governos africanos é confirmado pelo fato de muitas delegações terem permanecido em Roma após a conclusão da conferência, em vez de pegarem o voo de regresso à noite. Na manhã de terça-feira, muitos chefes africanos desfilaram no gabinete do primeiro-ministro, para discutir novos acordos. Essas cenas eram habituais no Eliseu, em Paris, que acolhe o presidente francês, não no Palazzo Chigi.

Quando se reúnem líderes de 46 estados africanos, das mais diversas tendências políticas, muitas vezes com relações nada cordiais entre si e com o desejo de fazer exibições musculosas, tudo pode acontecer. Certamente, a primeira-ministra sabia dos riscos que corria ao organizar a primeira cúpula Itália-África a nível de chefes de estado e de governo. Não obstante, a única satisfação à oposição esquerdista italiana foi dada pelo chadiano Moussa Faki, presidente da Comissão da União Africana, que declarou: “Esperávamos ser consultados sobre o Plano Mattei. Não podemos mais ficar satisfeitos com promessas.”

Para Meloni, no entanto, Faki também reconheceu que “as suas posições a favor de um novo paradigma de parceria com a África são altamente valorizadas no continente”. E garantiu que “a África está pronta para discutir os contornos e métodos de implementação” do plano.

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À noite, o presidente rotativo da União Africana, o comoriano Azali Assoumani, explicou que as palavras de Faki, que pareciam críticas, foram traduzidas de forma imprecisa pelos intérpretes e que, em qualquer caso, “ninguém pode contestar o Plano Mattei”. Para ser ainda mais claro, disse que a cúpula organizada pela Itália, um “país irmão”, foi “um sucesso”. Trata-se, portanto, de uma posição nada hostil por parte dos líderes africanos, demonstrando que, no mínimo, há um convite para levar a sério o plano e apertar seus prazos, o que combina muito bem com o pensamento do primeiro-ministro italiano.

É por isso que Meloni se comprometeu a acompanhar “pessoalmente” os projetos-pilotos. Será a partir deles que começaremos a mostrar a todos os países africanos o que é a ideia italiana de “cooperação não predatória”, que representa o primeiro conteúdo da caixa que não está vazia. Pretendem aplicar tecnologias e competências italianas, como as da ENI, na energia, e da Acea, nos sistemas hídricos, aos recursos africanos, formando a mão de obra local e desencadeando um processo que também enriquece as populações desses países, tirando o desejo dos jovens para entrar em um barco.


Razões para otimismo

Há dinheiro para iniciar o negócio: € 5,5 bilhões, 3 dos quais retirados do Fundo Climático Italiano. A esquerda está indignada, pois gostaria de gastar esses recursos na prossecução dos objetivos estabelecidos nos acordos internacionais de descarbonização, que são completamente inúteis, já que até a China e a Índia se comprometam a fazer o mesmo. Desviar esse financiamento para África para construir infraestrutura para produzir e transportar energia, da qual a Itália também beneficiará, é muito mais inteligente.

Depois dos fracassos do passado, a pretensão de aplicar um choque à África pode parecer irrealista, mas, na verdade, é a coisa mais pragmática a fazer, é a única forma de impedir que, no espaço de algumas gerações, mude-se para a Europa um número tão grande de pessoas que o velho continente não seja capaz de gerir.

Existem 1,4 bilhão de africanos, e cada africano dá à luz, em média, a 4,6 filhos (os europeus, para se ter uma ideia, têm 1,5, os italianos apenas 1,2 filho). É ingênuo acreditar que, sem uma clara mudança de paradigma, as coisas podem resolver-se por si mesmas. Há razões para esperança: a África tem recursos energéticos, minerais e agrícolas ilimitados e mão de obra abundante; já a Itália tem tecnologias e grupos industriais de classe mundial. Há escassez de infraestrutura na África e em todo o Mediterrâneo, e falta a formação profissional necessária em muitos países africanos. Ambas as coisas podem ser “construídas”.

As instituições europeias têm interesse em colocar mais dinheiro na mesa. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, ao lado de Meloni, entenderam que criar uma relação sólida com a chefe do governo italiano também é conveniente para elas. E tudo nos leva a acreditar que, depois das eleições europeias, a relação entre Roma e Bruxelas será ainda mais forte.

Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.

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