O número de crianças e adolescentes em situação de pobreza pode aumentar nos próximos anos no Brasil caso não haja políticas públicas permanentes voltadas para a questão. O alerta está na pesquisa Pobreza Infantil Monetária no Brasil – Impactos da pandemia na renda de famílias, lançada hoje pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“O risco do aumento da pobreza monetária infantil nos próximos anos é relevante, pois a pandemia teve grande impacto sobre famílias com maior número de crianças e adolescentes”. Além disso, “a recuperação da economia ainda não fez com que os níveis de emprego e da renda do trabalho voltassem aos anteriores”, diz o estudo.
A pesquisa faz análise inédita dos impactos da pobreza monetária e da pobreza monetária extrema em crianças e adolescentes em 2020 e 2021. Na definição do Banco Mundial, pobreza extrema significa viver com menos de US$ 1,90 por dia e pobreza monetária, com menos de US$ 5,50. No Brasil, a referência usada é de R$ 492 por mês como limite para a pobreza monetária e R$ 170 para a pobreza extrema.
Segundo a pesquisa, crianças e adolescentes são os mais afetados pela pobreza. Até 2020, o percentual de crianças e adolescentes abaixo da linha da pobreza monetária extrema era próximo do dobro do índice de adultos – uma média de 12%, versus 6%. No caso da pobreza monetária, enquanto a população adulta registrava índice de cerca de 20%, crianças e adolescentes apresentavam percentual de 35% a 45%, dependendo da faixa etária.
“Isso é uma constante não só no Brasil, mas em outros países. As famílias com crianças e adolescentes são mais vulneráveis, elas têm base de custo maior dentro da própria família. As crianças e adolescentes têm uma série de necessidades, que fazem com que essas populações sejam mais vulneráveis. Por isso, políticas para a infância são fundamentais e precisam ser fortalecidas”, diz a representante do Unicef no Brasil, Florence Bauer.
A pesquisa mostra que mesmo entre as populações mais vulneráveis, há diferenças raciais e regionais. “A pobreza monetária infantil afeta com muito mais força populações pretas, pardas e indígenas, a diferença é de quase o dobro, dependendo do período, comparado com outras populações. Também percebemos o mesmo ciclo de disparidade entre crianças que moram no Norte e Nordeste, em comparação com Sul Centro-Oeste e Sudeste”, acrescenta Florence.
O estudo analisa o impacto do Auxílio Emergencial e mostra que, com o programa, nos primeiros meses de 2020, o percentual da população em situação de pobreza monetária extrema caiu para cerca de 4%, enquanto o de crianças e adolescentes baixou para cerca de 6%. No caso da pobreza monetária, as reduções foram de cerca de 5 pontos percentuais para a população total e de cerca de 6 a 7 pontos percentuais para crianças e adolescentes.
Ao longo da pandemia, os dados mostram que quando o auxílio foi suspenso, aumentou também o nível de pobreza. Isso ocorreu também em setembro de 2020, quando o auxílio emergencial passou de R$ 600 para R$ 300, fazendo com que grande parte da queda da pobreza monetária fosse perdida.
“Política como o Auxílio Emergencial, em uma situação como esta, foi fundamental para proteger crianças e adolescentes da pobreza”, diz Florence. Para ela, essas medidas temporárias, no entanto, não resolvem o problema da pobreza, “por isso a gente recomenda que as políticas mais permanentes, como o Auxílio Brasil, precisam ter continuidade, com orçamentos garantidos e que cheguem às famílias mais vulneráveis”.
Com informações da Agência Brasil
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