O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) disse nesta sexta-feira que o cessar-fogo acordado por Israel e o Hamas é um “raio de esperança” para as crianças na Faixa de Gaza, onde se estima que mais de 64 mil crianças foram mortas ou feridas desde o início da ofensiva israelense em outubro de 2023.
O porta-voz do Unicef, Ricardo Pires, disse durante uma coletiva de imprensa que “as vozes das crianças são muito mais poderosas” ao refletir o que está acontecendo em Gaza, ao mesmo tempo em que enfatizou a importância de as partes “fazerem todo o possível para garantir que o acordo seja cumprido”.
Ele pediu uma “paz duradoura” na área e pediu que as crianças fossem “protegidas”. “A notícia desse cessar-fogo é um raio de esperança muito necessário e há muito esperado para elas e suas famílias. Essa esperança deve ser acompanhada por ações imediatas e urgentes”, disse ele, de acordo com um comunicado.
“Cerca de 25% das crianças têm ferimentos que podem mudar suas vidas para sempre. O Unicef está pronto para fornecer ajuda. Israel deve abrir o maior número possível de pontos de entrada porque a situação é crítica.
“Corremos o risco de ver um aumento maciço de mortes de crianças, não apenas de recém-nascidos, mas também de bebês, cujos sistemas imunológicos estão mais fracos do que nunca e que não têm acesso a alimentos adequados há anos”, disse ele.
Se acrescentarmos a isso um inverno frio, sem abrigo ou roupas adequadas, o resultado será letal”, disse ela. “No ano passado, vimos recém-nascidos morrerem de hipotermia”, acrescentou.
Ele ressaltou, no entanto, que o Unicef vem tentando há meses “levar suprimentos de todo o mundo para Gaza”. “Nosso objetivo é entregar dois conjuntos de roupas de inverno para cada bebê com menos de 12 meses e levar um milhão de cobertores para cada criança em Gaza”, disse.
Além disso, disse ele, há “dispositivos de assistência a caminho para as milhares de crianças feridas”, já que “por muito tempo, itens como cadeiras de rodas e muletas foram impedidos de serem trazidos”.
“Estamos prontos para apoiar a restauração dos sistemas de abastecimento de água, bem como de drenagem e saneamento, incluindo a gestão de resíduos sólidos, para atender a todas as crianças e famílias na Faixa de Gaza”, afirma o texto, que também aborda a importância da distribuição de alimentos para a população afetada.
Pires alertou que o acordo “deve servir para prevenir a desnutrição e evitar a propagação da fome”. “Precisamos ser capazes de levar uma quantidade maciça de suprimentos nutricionais e tratamento para Gaza”, acrescentou.
“Um cessar-fogo efetivo deve ser mais do que palavras: ele deve ser mantido e respeitado, com os direitos das crianças no centro. Isso significa abrir todas as passagens para a ajuda humanitária e garantir que todas as crianças, de norte a sul, recebam o essencial para a sobrevivência”, disse ele.
Ele lembrou que a ajuda humanitária “é apenas o começo”. “As crianças de Gaza também precisam de escolas reabertas, espaços para brincar restaurados e tempo para se curar do trauma inimaginável que sofrem”, continuou, antes de exigir que o cessar-fogo “crie as condições para uma recuperação de longo prazo”.
MSF fala em situação humanitária crítica
Em Khallet Athaba, um vilarejo a região de Masafer Yatta, na Cisjordânia, as famílias estão sofrendo assédio diário, intimidação e ataques violentos por parte de colonos israelenses, muitas vezes sob a proteção das forças militares israelenses. De acordo com o depoimento de palestinos, desde fevereiro de 2025, o Exército israelense realizou múltiplas demolições que deixaram mais de 85% das casas e abrigos em ruínas, forçando as pessoas a viverem em cavernas.
Na semana passada, uma nova onda de ataques destruiu sete abrigos, nove tendas, 14 tanques de água e o sistema elétrico local – em ações frequentemente acompanhadas por colonos israelenses e protegidas por militares. Restaram apenas três casas e uma escola em pé. As famílias quase não têm opções de abrigo seguro.
A comunidade de Khallet Athaba, onde vivem cerca de 100 pessoas, continua resistindo ao deslocamento forçado, mesmo diante da destruição em larga escala. Famílias que tiveram suas casas demolidas passaram a viver em cavernas, mas ainda enfrentam ataques recorrentes de colonos israelenses, que invadem a área e intensificam o clima de medo. Um morador relatou a expansão constante dos assentamentos nos arredores, com caravanas se aproximando da aldeia a cada dia.
Equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) que visitaram o vilarejo alertam para uma situação humanitária crítica.
“A comunidade precisa urgentemente de atendimento médico, apoio à saúde mental, alimentos, água potável, itens de higiene e serviços de saneamento. Mas, acima de tudo, as famílias enfatizaram sua necessidade de proteção, dignidade e acesso a serviços essenciais”, afirma Frederieke van Dongen, coordenadora de assuntos humanitários de MSF.
Para Médicos Sem Fronteiras, o que ocorre em Masafer Yatta faz parte de uma política mais ampla de limpeza étnica, voltada à remoção forçada da população palestina da região. Apesar das demolições sucessivas e dos ataques constantes, nenhum morador deixou a comunidade até agora. Eles insistem que não se tornarão refugiados em sua própria terra.
Com informações da Europa Press
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