As vendas de varejo estimadas pelo indicador Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar) – FIA Business School mostram trajetória de queda no primeiro trimestre de 2024. No conceito restrito, que exclui material de construção e veículos, a queda estimada é de 0,2%. Incluindo todos os segmentos, o recuo é mais pronunciado e chega a 2%.
Para Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, “há um efeito negativo espalhado no varejo. Dos 13 segmentos avaliados, oito mostram queda das vendas no primeiro trimestre de 2024”.
O indicador mostra queda para livros e papelaria (-10,4%), vestuário e tecidos (-7,4%), móveis e eletrodomésticos (-6,8%), artigos de uso pessoal (-4,9%), veículos (-3,8%) e material de construção (-0,7%). Para os segmentos de material de escritório, combustíveis e alimentos e bebidas, registrou-se estabilidade. Taxas de crescimento foram identificadas apenas para os segmentos de hipermercados e supermercados (1,5%) e artigos farmacêuticos (0,6%).
Já estudo da KPMG aponta desafios e preocupações para o setor de consumo e varejo em 2024.
O sócio da KPMG líder de consumo e varejo no Brasil e na América do Sul, Fernando Gambôa, faz uma análise sobre as perspectivas para a indústria para o próximo ano. Segundo ele, há alguns pontos fatores que vão afetar o ritmo do setor e que precisam ser levados em consideração que são os seguintes:
“O primeiro deles diz respeito à reforma tributária que foi aprovada recentemente, para evitar aumento da tributação. Depois, a indústria deve ficar atenta à desoneração da folha de pagamento, que se não for confirmada tem potencial de elevar custos em alguns segmentos, além da taxa de desemprego que está em baixa. Além disso, a queda de juros diretamente relacionada à oferta de crédito é fundamental para muitos segmentos dentro do setor. Por fim, as discussões sobre o fim do parcelamento no cartão de crédito trazem muitas incertezas, visto que poderá ter um impacto gigantesco nos consumidores das classes B, C e D”, alerta.
Para ele, ainda há ainda alguns aspectos que o setor precisa ter atenção, como a alta concentração de volume de negócios digitais nos principais marketplaces, com 80% do volume digital transacionado e o avanço da operação cross border (com outro país) oriunda da China são duas dessas preocupações que devem estar na pauta das grandes empresas, principalmente no segmento de moda e eletro”.
Com relação à economia, para Gambôa, “é necessário que o país mantenha uma situação econômica estável (queda de juros, maior acesso ao crédito, estabilidade do dólar e redução da inflação), para permitir a retomada de consumo e de investimentos no setor, principalmente, para expansão de lojas e adoção de tecnologia”.
“Seguir atento sobre como será a evolução do cross border e a tributação sobre isso, pois impacta diretamente segmentos como moda e eletro. Além disto, para o segmento de alimentos e bebidas, a eventual implantação do “Imposto do Pecado” poderá sobretaxar algumas categorias que podem ter o consumo altamente impactado além de potencializar o mercado ilegal, tais como para bebidas alcoólicas”, exemplifica.
Ainda segundo o estudo, o comércio digital vai seguir avançando na estratégia dos varejistas.
“O foco no cliente segue em alta, que precisa ser identificado e reconhecido em qualquer canal, para que possa viver uma jornada sem atrito ou fricções. A maior quebra de expectativas quando falamos em comércio digital segue sendo na logística last mile, (etapa de entrega para o consumidor final), que ainda tem muito espaço para evoluir. Vimos um salto tremendo neste tipo de logística quando comparamos o pré-pandemia e os dias atuais, mas ainda tem muito espaço para avançar. Isso passa também por inclusão digital, trazendo conectividade e permitindo que novos consumidores possam comprar em ambiente digital, bem como receber seus pedidos mesmo vivendo em comunidades onde não existe CEP. O desafio é grande, mas temos um conjunto de tecnologias, como tecnologia 5G, geolocalização, inteligência artificial generativa. Temos que ter especial atenção para o avanço e emprego deste último recurso em plataformas omni, além de preocupações com questões éticas e de regulamentação para seu uso, que já estão sendo amparadas em leis que permitirão mitigar riscos para emprego em processos de inovação (exemplo, Projeto de Lei nº 2.338/2023).”