Este ano não está sendo nada fácil para as varejistas: escândalos contábeis, juros altos e retração no consumo são apenas alguns dos fatores que prejudicaram as performances das companhias e refletiram negativamente nos papéis do varejo na Bolsa. Contudo, esse vexame estaria acompanhado de uma oportunidade para o investidor?
De acordo com um levantamento realizado pelo Monitor Mercantil com 15 varejistas listadas na Bolsa, no período de janeiro a outubro de 2023, 14 companhias viram suas cotações desabarem. São elas:
- Americanas (AMER3): Queda de 90,59%;
- Casas Bahia (BHIA3): Queda de 77,72%;
- Pão de Açúcar (PCAR3): Queda de 77,53%
- Marisa (AMAR3): Queda de 70,47%;
- Magazine Luiza (MGLU3): Queda de 48,65%;
- Grupo Soma (SOMA3): Queda de 42,81%;
- Assaí (ASAI3): Queda de 42,39%;
- Grupo SBF – Centauro (SBFG3): Queda de 41,23%;
- Petz (PETZ3): Queda de 39,66%;
- Guararapes/Riachuelo (GUAR3): Queda de 37,84%;
- Carrefour (CRFB3): Queda de 36,70%;
- Lojas Renner (LREN3): Queda de 36,58%;
- CVC (CVCB3): Queda de 35,29%;
- Grupo Mateus (GMAT3): Queda de 4,12%;
“As ações das varejistas chegaram ao ponto mais baixo e muita gente está falando isso há muito tempo. O fato é que enquanto a economia permanecer ruim e os juros continuarem altos, o cenário continuará o mesmo para o setor. Então, tudo vai depender de uma mudança no cenário macro”, explica Vitorio Galindo, analista de investimentos da Quantzed.
O especialista recorda que as companhias deste setor estão com um alto endividamento, e que o capital de giro também é um calcanhar de Aquiles nas operações: “Elas entregam o produto à vista e vão receber o valor parcelado em 12 a 18 meses. Para adiantar esses recebíveis, quanto maior a taxa de juros, mais cara fica essa operação, um cenário muito maligno para as varejistas”.
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Endividamento e juros prejudicam varejo na Bolsa
Iago Souza, analista de Varejo da Genial Investimentos, reforça que o endividamento das famílias segue elevado após a pandemia, o que provoca uma menor propensão ao consumo, prejudicando o varejo na Bolsa.
“E junto com a Selic elevada no Brasil, os juros no exterior também foram elevados, como o Fed Funds nos Estados Unidos. Essas movimentações encarecem o crédito, tanto para empresas como para as pessoas físicas”, destaca o especialista.
“Com mais um corte na Selic, as coisas não mudam tão rápido assim no varejo. Vamos entender melhor essa movimentação no longo prazo, quando os juros estiverem em torno de um dígito já há algum tempo. Acredito que começará a ficar bom para o varejo quando a Selic estiver abaixo de 8%”, diz Galindo, que projeta:
“Na hora que a Selic estiver chegando perto de 8% e 6%, acho que já é um patamar saudável. Assim, esse custo de capital de giro e de endividamento não acabará atrapalhando tanto o resultado, e as companhias voltarão a prosperar”
E as oportunidades?
No levantamento realizado pelo Monitor Mercantil, a C&A (CEAB3) foi a única empresa varejista que apresentou uma valorização: 134,55% de janeiro a outubro.
Na Genial, os papéis CEAB3 possuem recomendação de “compra”, com o preço-alvo de R$ 8,20. “Entendemos que o contexto em que a companhia passe a desfrutar dos benefícios do push and pull com a melhora de produtividade não esteja refletido nos preços atuais”, afirmam os analistas da casa em relatório.
A corretora também trabalha com recomendação de compra nas ações LREN3 (preço-alvo de R$ 18), PETZ3 (preço-alvo de R$ 5,50), GMAT3 (preço-alvo de R$ 9), PCAR3 (preço-alvo de R$ 5) e ASAI3 (preço-alvo de R$ 17).
À reportagem, Galindo também aponta os papéis da Guararapes/Riachuelo (GUAR3) e do Grupo Mateus (GMAT3) como oportunidades para quem deseja investir no setor. “Nessas duas eu acredito que, sim, é a hora de comprar, pois elas estão descontadas”, comenta ele, que faz a seguinte ressalva:
“Agora, nas demais, eu não tenho uma visão muito boa e nem nada que me anime muito para achar que é hora de comprar. Na verdade, acho que ainda pode piorar muito antes de começar a melhorar para as demais empresas. E outras estão com valuation muito caro, não estão descontadas, então também não me atraem”.
Por Erick Matheus Nery, especial para Monitor Mercantil
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