Vargas, o petróleo e o novo Brasil

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Dialética não se ensina na Escola, mas ocorre como fato real que submete tanto seus mentores quanto seus críticos. Assim, a brincadeira acadêmica de juros altos, conduzida pela equipe econômica escolhida por FHC, bem fornida de diplomas mas despreparada na gestão até de microempresas, esta pequena brincadeira, subir juros para atrair recursos externos, provocou, além da explosão da dívida interna, a crescente dependência de recursos externos – dialética natural para manter este modelo financeiro funcionando – e que levou em seu bojo a necessária radicalização da entrega das estatais e da instalação do novo modelo de dependência econômica do país, jamais sonhado por quaisquer dos líderes políticos sérios cujo discurso tenha sido expressivo até a década de 80, à exceção de um robertocampos.
O difícil domínio da língua inglesa ao brasileiro complexifica a compreensão da História econômica do Ocidente que ainda se rescreve e portanto não contida em currículos de doutorado no exterior. Muitos erros advêm daí, da tradução superficial de experiências. Por exemplo, os modelos americanos de taxas de juros trabalham com percentuais depois da vírgula (0,25/0,50%) expressivos em virtude da intensa especulação naquele país com títulos de renda fixa em mercados futuros, o que não ocorre do mesmo modo no Brasil. Assim a transposição da mecânica financeira de juros se faz por sobre grandes percentuais depois da vírgula (10%, 15%, 20%) o que, obviamente, derroga (avacalha) a equação de Chicago.
Outrora, no Sul do país, a algumas pessoas que se diplomavam no exterior, a resposta sobre que curso, que profissão haviam adquirido então era: “Não sei, o diploma estava escrito em alemão”.
A dependência econômica começa com este mau conhecimento da língua inglesa e prossegue pelo desconhecimento da história americana ou da história inglesa, sobretudo em setores como os de energia e especificamente de petróleo, até porque o Brasil aqui gravitou marginalmente, culminando com o desconhecimento da História econômica e política do Brasil, desprezada como subdesenvolvida, mas nem por isto menos real, ou menos dialética e menos devoradora de seus traidores.
A não-reeleição de Roberto Campos, crítico acerbo de uma Petrobras que achou petróleo, é um exemplo expressivo da memória popular quando vota.
O vigor e a rapidez com que se construiu a nova dependência econômica em cinco anos de FHC e de sua equipe despreparadamente egressa do capitalismo especulativo são estarrecedores, qual câncer terminal. Em cinco anos torrou-se parcela expressiva do capital acumulado no país, com relativa soberania, já que a dívida líquida de R$ 500 bilhões, metade do PIB, comemora, com seu novo número, a redescoberta do país por grupos estrangeiros que, numa salada acionária via BNDES (co-criação de Roberto Campos) e alguns fundos de pensão, dividem estatais semi-privatizadas bem “à la Brazil”, num samba doido, o “Sanatório Geral”.
Vai-se varrendo o país do mapa, à exceção ainda da Petrobras e com petróleo, por fim descoberto, profunda frustração dos críticos jurássicos, cujo supremo gozo seria sua inexistência.
Tão reclamado, crença de muitos, o petróleo será a âncora, já nem da economia-dependente – mas do país, a mantê-lo no mapa, contra a vassoura entreguista. E está aí por Vargas, referência política nacional inconteste.
Não sem razão FHC anunciou que seu governo inaugurava a superação da Era Vargas. Sim, do petróleo é nosso, pelo novo refrão: “O petróleo é vosso”, já que existe.
Mas o petróleo está aí; o país caminha rapidamente para a auto-suficiência e à exceção de “jurássicos radicais” como o ex-senador que agora, passada a descrença, quer explorá-lo com velocidade, mas por terceiros; ou de outro ex-seminarista que considera a Petrobras lenta. À exceção de alguns ex-seminaristas, nem a “mídia oficial” descrê da performance da estatal, ainda que pouco dela receba em propaganda.
Mas o petróleo está aí e com ele Vargas, percursor e criador da Petrobras, em 1953. Convém reverenciá-lo por sua visão histórica e decisão de estadista ao promover pesquisa e exploração via Estado e Petrobras, contra a descrença, materializada em 1960 no famoso Relatório Link, geólogo e primeiro diretor de Exploração da Petrobras, que, para gaúdio dos que, nascidos no Brasil e que se crêem nórdicos, anunciou sua inexistência no Brasil. Aí se enterrava Vargas.
Mas não foi esta a História.
A Petrobras fez-se ao mar e à semelhança dos descobridores, descobriu um novo Brasil, o Brasil do petróleo, o Brasil da contra-dependência político-econômica, uma nova dialética, a comemorar sonho e delírio de Vargas.
Recordes sucessivos culminaram com o Campo gigante de Roncador, o poço mais profundo do mundo, a quase 2 km de lâmina d”água e reservas de 3 bilhões de barris.
Quando a frase o “Petróleo é Vosso” é pronunciada à frente de empresários, redescobre-se o sentido da outrora indignação popular contra Maria Antonieta na França pré-revolucionária ao dizer: “Se o povo não tem pão que coma brioche”. A Revolução não tardou.
Viva Vargas em sua busca de independência econômica, crença no país, em seu povo e em seus trabalhadores. Nenhum político, como Vargas, encarnou tão profundamente a alma nacional e suas demandas legítimas, inatendidas pela política da subserviência e do interesse, e pela nova desconstrução do país.
A pretensa superação de Vargas, vai desde a destruição da legislação trabalhista até a capitulação econômica com este lema oficial, consciente e assumido: “O petróleo é vosso”, brioche/deboche.
Os 17 bilhões de barris de reserva provada, a US$ 20 por barril, perfazem US$ 340 bilhões, mais que a dívida externa de US$ 220 bilhões, e mais que a metade do PIB em dólares.
O Brasil do petróleo está aí, já produzindo dois terços do que consome. O Brasil da independência econômica: delírio de Vargas. “Tira o retrato do Velho, bota no mesmo lugar”, era o refrão de sua volta, nos anos 50.
Vargas está vivo. Contra o Brasil destruído pela pilhagem desta década, e a dívida de R$ 500 bilhões, temos o Brasil do petróleo presente no subsolo e pronto a emergir, o Brasil de Vargas, nova fronteira nacional e internacional.
Sejamos honestos: Viva Vargas, viva a Petrobras!

Paulo Guilherme Hostin Sämy
Diretor da Associação Brasileira de Analistas de Capitais do Rio de Janeiro (Abamec-Rio), especialista em bancos e comércio exterior.

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