Vende-se dinheiro

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O novo milênio se aproxima e mais uma vez o futuro é sombrio e assustador.
Assustador, pois sabemos que atualmente, somos um país que pratica as mais altas taxas de juros reais do mundo ou seja 17,48% ao ano. Entretanto quando cobradas do consumidor chegam a mais de 340% ao ano e ganhamos de goleada.
As consequências são previsíveis. No curto prazo, o crédito continuará caro em todos os tipos de financiamento e as pessoas e empresas terão dificuldades para honrar suas dívidas aumentando mais a inadimplência, concordatas e falências, que provocarão mais desemprego diminuição da atividade industrial (menos pessoas comprando).
No médio e longo prazo provocará diminuição da atividade econômica (crescimento menor), diminuição dos investimentos diretos que provocará menos contratações.
Vale ressaltar que para resolvermos definitivamente o problema do desemprego ou subemprego o país precisa crescer cerca de 6% ao ano e em 1999 deveremos crescer na melhor das hipótese 0% e dependendo do período que estes juros continuarem elevados deveremos ter uma brutal recessão com uma queda de até 2% do PIB.
Vale ressaltar que os juros básicos estão muito elevados, entretanto, chegam a mais de dezesseis vezes quando chegam aos consumidores e isso precisa diminuir.
Os bancos e as lojas argumentam que a taxa básica está muito elevada, a cunha fiscal (impostos) estão igualmente muito elevados, a inadimplência também está muito elevada, o qual concordamos. Mas de 21% ao ano para 340% ao ano vai uma grande diferença que não dá para explicar tamanho ganho. Será que não seria melhor para todos diminuir este ganho para melhorar a liquidez, aumentar o poder de compra do consumidor e com isso poder comprar mais?
Já estamos a cinco anos em plena estabilidade econômica os preços não sobem mais como subiam e tivemos até deflação. Em plena época do Natal alguns preços chegaram a cair cerca de 15% o que era inimaginável a alguns anos. Já está na hora do lojista esquecer a ciranda financeira caracterizada nas vendas a prazo onde chegam a ganhar mais no financiamento do que com sua atividade fim, a venda do produto. Já está na hora do lojista melhorar seu critério de crédito para possibilitar uma redução dos juros como por exemplo não cobrar caro de todos para compensar os que não pagam. Os empresários do comércio precisam tomar consiência de que a queda das taxas de juros é benéfica para o seu setor, uma vez que a inadimplência irá diminuir e as vendas irão aumentar, e as receitas crescerão por volume de vendas.
Quanto ao consumidor, já está na hora de planejar melhor suas compras evitando se endividar por períodos tão longos, aprender a utilizar o cheque especial e seu cartão de crédito não utilizando-os como complemento de sua renda (eles só devem ser usados como medida emergencial e por períodos muito curtos em virtude de suas absurdas taxas de juros).
Quando tiver necessidade de comprar a prazo, questionar (não somente o valor da prestação e se ela cabe no seu orçamento) os juros e assim como comprar na loja que tem o melhor preço também comprar na loja que pratica os menores juros, lembre-se que os juros vão de 3,5% a 15% ao mês e você poderá estar comprando na loja mais cara.
Quanto aos bancos já passou da hora de diminuírem seus ganhos possibilitando prazos e taxas melhores a seus clientes (pessoas físicas e jurídicas), ganhando pouco sobre muitos do que muito sobre poucos evitando inclusive as ações que começam a aparecer na justiça.
Quanto ao governo, torna-se urgente combater a perversidade dos juros cobrados de quem produz e trabalha, diminuindo seus compulsórios e a carga tributária envolvida.
Só assim irá aumentar a competição e eliminar as travas que impedem uma oferta maior de crédito, o aumento da competição no sistema financeiro, admitindo a vinda de novas instituições estrangeiras que vai forçar um maior equilíbrio para o sistema, que é extremamente concentrado e a falta de oferta juntamente com o excesso de procura faz com que estas taxas não caiam para níveis aceitáveis. Como é possivel competir, investir, gerar empregos e consumir com taxas de juros desta natureza?
Por outro lado como poderemos exigir de nossos empresários investirem na produção investindo em novos mercados, produtos, geração de empregos se aqueles que não possuem recursos e tiverem que buscá-los no mercado financeiro com as altíssimas taxas de juros existentes, não conseguirão repassar as mesmas para os preços, e aqueles que os possuem têm a opção de ter ganhos tão absurdos no mercado financeiro sem o risco de produzir e não vender ou vender e não receber.
Assim vão desviando o dinheiro da produção e geração de empregos para a velha ciranda financeira que durante o plano real (jul/94 a jun/99) favoreceu os detentores de recursos que aplicaram no mercado financeiro com um absurdo retorno de 360,99% sendo 164,80% reais ( descontada a inflação do IGP/FGV e 74,09% no mesmo período) comprando títulos do governo federal, sendo que nunca se ganhou tanto dinheiro em termos reais em tão pouco tempo nem mesmo durante os anos de inflação elevada.
Ou seja 1999 poderá ser melhor ou pior, só depende do quanto todos estão dispostos a diminuírem suas margens e procedimentos, o único caminho que não poderá ser seguido é o do imobilismo.

Miguel José Ribeiro de Oliveira
Diretor-presidente da Ribeiro de Oliveira Consultores Associados e vice-presidente e coordenador geral das comissões técnicas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

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