Este artigo tem a finalidade de levar o leitor a avaliar as diretrizes do novo governo dos Estados Unidos, com a assinatura de dezenas de decretos a partir de 20/1/2025, quando Donald Trump assumiu a presidência. Em sua campanha eleitoral, fez várias promessas, entre elas: a pena de morte para traficantes de drogas, o fim da guerra na Ucrânia, a restauração da liberdade de expressão, a adoção de uma política de imigração rigorosa, a retirada do Acordo Climático de Paris e o restabelecimento do programa Fique no México.
Alguns decretos apontam para o cumprimento dessas promessas. No entanto, surpreendentemente, o presidente Trump anunciou iniciativas que tiveram repercussão em todo o planeta. Entre elas, a anexação do Canadá e da Groenlândia, o aumento da taxação de produtos importados de vários países, a retirada do Acordo de Paris, a retomada do Canal do Panamá, a saída da Organização Mundial da Saúde, o fechamento da USAID (agência humanitária dos Estados Unidos), cortes gigantescos nos investimentos em ciência e tecnologia e a proposta de transformar Gaza em uma “Riviera do Oriente Médio”, forçando a ida dos palestinos para o Egito e a Jordânia.
Essas iniciativas são preocupantes, pois, atualmente, a humanidade enfrenta enormes desafios. Entre eles estão as mudanças climáticas, a pobreza, a desigualdade social, a escassez de água, a concentração de terras, a alteração da matriz energética, a revolução digital, o terrorismo, os conflitos armados, as imigrações forçadas e a crise alimentar.
É importante considerar que o sofrimento humano está presente na maioria desses desafios. Essas turbulências, originadas nos Estados Unidos, vêm de um país que sempre procurou aperfeiçoar e consolidar a democracia e que teve notáveis presidentes, como George Washington (1789–1797), Abraham Lincoln (1861–1865) e Franklin D. Roosevelt (1933–1945).
Considero algumas iniciativas, como a anexação do Canadá e da Groenlândia, um retrocesso e um ato condenável. Da mesma forma, os Estados Unidos, que têm um papel fundamental no combate às catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas, devem ser parceiros essenciais na conservação da vida no planeta.
A retirada da Organização Mundial da Saúde certamente terá consequências graves para a saúde humana em todo o mundo. Tomara que o desejo de transformar Gaza em uma “Riviera do Oriente Médio” seja abandonado e que possamos construir um Estado Palestino que conviva com colaboração e paz ao lado de Israel.
Quem sabe seja hora de tentarmos aperfeiçoar a democracia e construir um mundo de paz, produzindo ventos do sul que possam se espalhar pelo planeta. Para isso, precisamos aprimorar a legislação e os programas governamentais, buscando estratégias essenciais para proporcionar equidade e ambientes de alegria e felicidade para a espécie humana. Oito dimensões devem ser aperfeiçoadas:
- Educação de qualidade – Garantir acesso a uma educação de qualidade para todos, independentemente de sua origem socioeconômica, é fundamental.
- Acesso à saúde – Promover a igualdade no acesso aos cuidados de saúde é crucial. Isso inclui garantir que serviços de qualidade estejam disponíveis para todas as comunidades, especialmente as mais vulneráveis.
- Emprego e renda – Fomentar a criação de empregos e garantir salários justos. Incentivos a empresas que contratem de forma inclusiva e programas de geração de renda podem ajudar a combater a pobreza.
- Políticas de assistência social – Implementar ou reforçar políticas de assistência social que apoiem os grupos mais vulneráveis, como programas de transferência de renda e suporte a famílias de baixa renda.
- Distribuição de riqueza – Promover uma tributação justa e políticas de redistribuição de renda para reduzir as disparidades econômicas, garantindo que os mais ricos contribuam proporcionalmente para o bem-estar social.
- Direitos humanos e participação cívica – Proteger os direitos de todos os cidadãos e promover a participação ativa nas decisões políticas assegura que as vozes das minorias e dos grupos marginalizados sejam ouvidas.
- Inclusão social – Incentivar políticas que promovam a inclusão de grupos historicamente marginalizados (mulheres, negros, indígenas, idosos e pessoas com deficiência).
- Desenvolvimento sustentável – Focar em um modelo de desenvolvimento econômico que beneficie toda a sociedade e promova a sustentabilidade ambiental, evitando ciclos de pobreza e exclusão.
Isaac Roitman é professor emérito da Universidade de Brasília e da Universidade de Mogi das Cruzes, pesquisador emérito do CNPq, membro da Academia Brasileira de Ciências e do movimento 2022–2030: O Brasil e o Mundo que Queremos.