Voto, poder de transformação

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Os brasileiros irão às urnas no próximo domingo escolher os prefeitos, que não conseguiram ser eleitos no primeiro turno. Alexandre Kalil (PSD), em Belo Horizonte; Marquinhos Trad (PSD), em Campo Grande; Rafael Greca (DEM), em Curitiba; Gean Loureiro (DEM), em Florianópolis; Álvaro Dias (PSDB), em Natal; Cinthia Ribeiro (PSDB), em Tocantins; e Bruno Reis (DEM), em Salvador, foram campeões de votos em suas cidades e se elegeram logo no primeiro turno.

As eleições municipais de 2020 foram as primeiras após a ascensão do bolsonarismo, que levou Jair Bolsonaro à presidência da República, em 2018. A eleição de Bolsonaro foi parte da onda conservadora que inundou o Brasil e o antipetismo, por causa da grave crise político-econômica de 2014, iniciada no Governo Dilma Rousseff, que sofreu um impeachment, e agravada no Governo Michel Temer. A consequência dessa crise foi a diminuição considerável de prefeitos eleitos pelo PT, sobretudo em face da Operação Lava Jato, que levou, inclusive, o ex-presidente Lula para a cadeia.

Nesse vácuo, viram-se a vitória do bispo Marcelo Crivella, no Rio, e do empresário João Dória, em São Paulo. O primeiro, do Republicanos, é prefeito, candidato à reeleição, encontrando grande dificuldade para vencer o adversário Eduardo Paes, DEM, que está 25 pontos à sua frente, e que já foi prefeito da Cidade Maravilhosa por oito anos.

Já Dória, depois de ser eleito prefeito foi, em seguida, eleito governador do Estado de São Paulo, pelo PSDB, e teve, na atual campanha, de se descolar do candidato a prefeito de São Paulo Bruno Covas, do mesmo partido, para lhe permitir dar voo solo, uma vez que o desgaste do governador paulista é notado nas pesquisas. Covas continua na frente em todas as pesquisas, com 48% das intenções de voto, e seu opositor na corrida à prefeitura, Guilherme Boulos, Psol, tem 37% dessas intenções, sendo a grande revelação nessa eleição de 2020.

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Na esfera nacional, o presidente Bolsonaro deu apoio a vários candidatos, mas nenhum deles conseguiu ser eleito. Com medo de arranhar ainda mais a sua imagem, preferiu, nesse segundo turno, não fazer campanha para o candidato do Rio, Crivella, com medo indisfarçável de o prefeito carioca não ser reeleito. Em São Paulo, seu candidato, Celso Russomano, Republicanos, amargou um quarto e humilhante lugar na corrida municipal, apesar de ter largado na pole-position.

E, de acordo com as últimas pesquisas realizadas pelo Ibope, a avaliação positiva do Governo Bolsonaro despencou numericamente em 23 das 26 capitais brasileiras, nos últimos dois meses. E naturalmente essa má avaliação repercutiu nas urnas de todo o país. No Nordeste, em João Pessoa, na Paraíba, ocorreu a maior redução de avaliação “boa” ou “ótima”, atingindo um percentual de 43%.

Em São Luís, no Maranhão, o percentual que considera a gestão de Bolsonaro ruim ou péssima aumentou de 46% para 57%; em Curitiba, no Paraná, a alta foi de 10 pontos percentuais, de 34% para 44%. Salvador é a capital em que Bolsonaro tem a pior avaliação, e somente 15% dos soteropolitanos consideram seu governo bom ou ótimo. Os resultados da pesquisa mostram que, em São Paulo, a avaliação de ruim e péssimo pulou de 48% para 54%, enquanto no Rio de Janeiro, subiu, de ruim e péssimo, de 38% para 43%.

No primeiro semestre deste ano, as eleições passaram a ter como tema central a pandemia da Covid-19, levando a Justiça Eleitoral, os partidos e políticos a remodelarem seu planejamento para o processo eleitoral. Em maio, com dificuldade em controlar a pandemia e com o descaso do Governo Federal em relação ao coronavírus, o Congresso Nacional adiou as eleições municipais com a promulgação da PEC 18/2020, originando a Emenda Constitucional 107. O primeiro turno foi marcado para o dia 15 de novembro e, o segundo, para este domingo, dia 29 de novembro.

Lamentavelmente, o que se observa e o que se verifica entre os candidatos que chegaram ao segundo turno, e citando os do Rio de Janeiro e de São Paulo, os colégios eleitorais de maior importância no Brasil, é que os quatro perderam completamente a postura e a compostura. Em vez de discutirem e apresentarem propostas melhores para ambas as cidades, os discursos sobretudo, no Rio de Janeiro, são ataques à honra, à integridade e à moral.

O eleitor carioca perde, e muito, pois o nível das mentiras cresceu assustadoramente, e a criação de fatos que não traduzem verdade se espalham nas ruas, nas avenidas, nos becos, nos largos e nas redes sociais com muita facilidade e velocidade, gerando grande confusão no eleitor, que, perplexo, assiste a uma luta de titãs, que buscam permanecer ou voltar ao Palácio da Cidade, no desafio do vale tudo. Diante desse cenário com tantas manifestações sombrias, o Ibope revela que Eduardo Paes tem 65% das intenções dos votos válidos, contra 35% desses mesmos votos para Marcelo Crivella.

Em São Paulo, a situação não é muito diferente, com a esquerda também dividida, como no Rio, e com o candidato do PT derrotado de forma assustadora, mesmo que apoiado pelo ex-presidente Lula. Covas vem sendo duramente criticado por Boulos, por ser apadrinhado de Dória e nega-lhe palavras positivas em relação ao governo municipal que chefia. Ao contrário, lhe faz duras acusações de omissão, negligência e má administração.

Já Boulos, que tem como vice Luiza Erundina, atual deputada federal, e que já foi prefeita de São Paulo e ministra de Estado, e que se projetou na política como líder do movimento sem-teto, diz que governará com formas de participação social mais ampla e terá negros em seu secretariado. Nesse ringue, o Ibope revela que as intenções de votos válidos, em São Paulo, dão vantagem para Covas, com 57%, contra 43%, para Boulos.

Nesse momento, crítico para o mundo e crítico especialmente para o Brasil, os políticos deveriam deixar de lado suas diferenças pessoais e ideológicas e marcharem para o bem comum dos brasileiros, que precisam de saúde de qualidade; de educação em tempo integral; de boa infraestrutura nas cidades; de saneamento básico; de políticas públicas efetivas em relação ao meio ambiente; de um sistema urbano que funcione efetivamente; de combate ao racismo, pois as vidas importam, sejam de índios, negros ou brancos; de atenção aos idosos.

O que ocorreu em Macapá, Amapá, com um apagão de quase 30 dias, é absolutamente inaceitável e vergonhoso e revela o descaso das autoridades públicas com aquele estado. Mas se lá o apagão foi manchete no mundo, as mazelas dos grandes centros brasileiros estão diariamente estampadas nos noticiários. O brasileiro quer simplesmente viver em um país bem governado, com disciplina, com ética, com ordem e progresso. Parece que os políticos são míopes para os problemas os quais são enfrentados todos os dias pelo povo, e vivos suficientemente para legislarem para seus interesses pessoais, escusos, imorais e amorais.

 

Paulo Alonso

Jornalista, é reitor da Universidade Santa Úrsula.

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